terça-feira, 26 de maio de 2020

Casos sem sintomas ou com sintomas leves “são a chama que mantém a contaminação” no Brasil

 Projeções indicam que número de casos ainda está crescendo de forma exponencial no País, mas dados insuficientes prejudicam previsões de médio e de longo prazo – Fotomontagem

Cientistas veem Brasil como epicentro da pandemia num futuro próximo e, com dados subdimensionados pela testagem somente de casos mais graves, sem condições reais de enfrentamento

Por Rose Talamone – Jornal da Usp

Um dos maiores problemas enfrentados pela ciência de dados no monitoramento do novo coronavírus são os dados mal coletados e restritos, afirma Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) que acompanha a evolução da pandemia em Estados e municípios do País. Para ele, “casos sem sintomas ou com sintomas leves são a chama que mantém a epidemia”, já que não são testados e os infectados não fazem um isolamento restrito.

Os boletins oficiais divulgados diariamente sobre o número de infectados não refletem a realidade da pandemia no Brasil, pois se baseiam nas internações; só nesses casos é que são feitos os testes para detecção do vírus, alerta o professor. Enquanto os registros oficiais mostravam pouco mais de 165 mil infectados no dia 11 de maio, por exemplo, as projeções dos pesquisadores de Ribeirão Preto chegavam a 2,3 milhões. 

Mesmo projetando o País como novo epicentro da pandemia, Alves diz que essas estimativas são feitas sempre para baixo, pois a metodologia empregada utiliza o número de mortes pela doença e não o de infectados. E até esse indicador, feito através dos óbitos, também não reflete a realidade, argumenta, já que ele é igualmente subnotificado. O fato é considerado grave pelos pesquisadores pois as ações de planejamento e as políticas públicas para controle da pandemia dependem de dados reais. 

Como exemplo, Domingos Alves cita a diferença entre os números utilizados pelo seu grupo e os levantados pela Universidade Federal de Pelotas, estimando a infecção para o Estado do Rio Grande do Sul. Os pesquisadores gaúchos encontraram, para um mesmo período de tempo, sete vezes mais casos naquele Estado do que os boletins oficiais notificaram. “Eles apontavam o número de infectados em torno de 5,7 mil pessoas, e nós, em torno de 5 mil”, diz.

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