"Um governo que aposta no caos para ter mais poder, mas tem cada vez menos poder" (Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP)
Por Luiz Carlos
Bresser Pereira - no Facebook
Há duas semanas, nesta página pública do Facebook, eu
afirmei que o governo Bolsonaro perdera o apoio das elites econômicas e
políticas; perdera, portanto, legitimidade social, e não mais governava.
Não estava, assim, com o apoio da sociedade para
enfrentar a crise interna caracterizada pelo crescimento do PIB de 1,3% em
2019, e pela disparada do dólar.
Nesta semana somou-se à crise interna o pânico em todas
as bolsas do mundo com a recessão que o coronavírus deverá causar. A queda da
Bolsa de São Paulo, de 25,9%, porém, foi nesta semana muito maior do que na
Bolsa de Nova York, de 16,5%. Por que?
Essencialmente porque, dada essa crise de legitimidade,
o governo Bolsonaro sofre hoje de uma dramática perda de poder. Vimos isto
nesta semana quando o Congresso rejeitou o veto do presidente ao projeto de lei
aumentando para meio salário mínimo o escopo do Benefício de Prestação
Continuada.
O poder executivo foi, assim, incapaz de evitar uma
despesa adicional sem a respectiva fonte de receita que, apenas neste ano,
deverá custar R$ 20 bilhões. Estamos vendo essa perda de poder do governo
também na sua incapacidade de reagir adequadamente à pandemia do coronavírus.
Mas o problema não é apenas perda de poder, é também
não saber usá-lo, como estamos vendo desde que começou há um ano atrás.
Ao invés de enfrentar o desemprego e a falta de demanda
com um grande plano de investimentos públicos, o governo promete que a retomada
do crescimento acontecerá assim que for aprovada a próxima reforma.
As reformas acontecem, algumas delas eram necessárias,
como a reforma da Previdência, mas o crescimento não vem. E assim a crise
econômica se interna soma à crise internacional.
Por quanto tempo isso será suportável? Não sei. Mas de
uma coisa estou certo: nunca houve no Brasil um governo que tenha perdido tanto
apoio social como esse que está aí.
Um governo que se põe contra praticamente todos os
setores da sociedade para ter o apoio de uma extrema-direita populista.
Um governo que aposta no caos para ter mais poder, mas
tem cada vez menos poder.
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