Por Ribeirão Preto (FOLHAPRESS)
"Ai, meu Deus, é
a primeira". A divulgação pela Prefeitura de Franca (a 400 km de São
Paulo) na última sexta-feira (20) de uma morte suspeita por coronavírus de um
paciente da região gerou reações como essa em redes sociais na cidade paulista.
O surgimento de mortes tidas como suspeitas por
coronavírus e mesmo casos em investigação, ainda que com pacientes com quadros
leves, têm gerado pânico em municípios do interior paulista, que criaram
medidas como fechar entradas das cidades e cancelar reservas em toda a rede
hoteleira para blindar sua população. Nesta terça (24), começa a valer a
quarentena determinada pelo governador João Doria (PSDB) em todo o estado.
Municípios como Campinas, Hortolândia, Jaguariúna, São
José do Rio Preto, São José dos Campos e Taubaté já têm casos oficialmente, mas
mesmo onde ainda não há registros, como Franca, o medo se instalou.
Na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, Rifaina, sem
caso, vetou o uso da represa que a separa da mineira Sacramento e a praia
artificial. Conforme o prefeito Hugo César Lourenço (PPS), para
"justamente evitar que esse vírus se propague em nossa cidade".
Em outra cidade, Miguelópolis, que a exemplo das duas
são banhadas pelo rio Grande, turistas foram proibidos de entrar na cidade e a
praia, principal ponto de lazer, foi fechada para todos.
Já Tabatinga, a "capital do bicho de
pelúcia", recebia todas as semanas ônibus de sacoleiros, que agora estão
vetados.
Nova Europa bloqueou, no final de semana, vias de
acesso para vetar veículos de outras localidades e passou a medir a temperatura
dos motoristas, enquanto em Ibaté foi decretada a proibição de novos hóspedes
em hotéis do município.
Hóspedes até antes da pandemia festejados pelos resorts
e parques aquáticos de Olímpia --que recebeu em 2019 quase 3 milhões de
turistas--, agora desapareceram da cidade, que suspendeu todas as reservas a
partir desta segunda-feira (23). Com 54 mil habitantes e seis casos suspeitos,
a cidade tem mais de 23 mil leitos em hotéis vazios.
Com isso, os municípios buscam se isolar em pequenos
feudos para combater o coronavírus, como também está fazendo a estância
turística de Santa Fé do Sul, onde a prefeitura bloqueou 15 vias de acesso à
cidade, por estradas de terra e asfaltadas.
Só duas estavam abertas ao tráfego nesta segunda-feira
(23), segundo o assessor de governo Gustavo Goes de Assis. "Não estamos
proibindo de entrar, mas queremos ter controle de acesso. Como somos estância
turística, muitos turistas têm vindo achando que é férias. Mas não estamos de
férias, é quarentena", afirmou.
O controle nas vias de acesso será feito 24 horas por
dia nos próximos 20 dias, prazo do decreto de emergência. A cidade, com pouco
mais de 30 mil habitantes, tem 8 casos suspeitos da doença, dos quais em um
caso a paciente de 74 anos morreu --ela morava numa cidade vizinha.
"O sistema de saúde quase não aguenta a população
de Santa Fé, imagine uma demanda extra", disse. Um caso suspeito já descartado,
de um jovem que viajou a países como Egito e Israel, antecedeu as ações na
cidade.
Essas cidades menores, em geral, não têm hospitais ou,
quando têm, não contam com UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ou têm poucos
leitos.
Rifaina, por exemplo, se precisar de atendimento em UTI
terá de encaminhar o paciente para Franca, distante 70 quilômetros. "Por
isso tomamos as medidas todas. Nos ranchos, muitos donos, de outras cidades,
vieram fazer quarentena aqui, e a cidade só tem UBS [Unidade Básica de Saúde]",
disse o secretário de Governo da cidade, Alcides Diniz dos Santos, que também
preside o comitê de crise instalado na cidade. Em Restinga, o cenário é o
mesmo, exceto pelo fato de ficar a menos de 20 quilômetros de Franca.
Outros balneários fechados foram os de cidades como
Presidente Epitácio e Presidente Prudente.
Apesar de União, estados e municípios terem endurecido
as regras nos últimos dias, há quem desobedeça a quarentena.
Na região de Campinas, pesqueiros estavam abertos e
recebendo visitantes durante o final de semana.
Em Restinga, na região de Franca, duas casas noturnas
foram interditadas sábado (21) por abrirem apesar de decreto municipal proibir
o funcionamento. Nesta segunda-feira (23), uma segunda morte suspeita foi
divulgada em Franca, de uma mulher que morreu domingo (22) após ter passado por
atendimento médico no fim de semana com tosse e dificuldade para respirar. Há,
ainda, 15 casos suspeitos da doença na cidade.
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