quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A Constituinte envenenada de Guedes e Bolsonaro

É essa linha que baliza o arrocho no funcionalismo, a virtual extinção do SUS, a precarização laboral, o fim dos reajustes do salário mínimo, a quase extinção do investimento público e a dominância do financismo. 
O país está se tornando um barril de pólvora social. Estamos na fase de resistência. É preciso ajustar as táticas de luta à nova realidade.

Por Gilberto Maringoni - GGN

O que Bolsonaro e Guedes levaram ao Congresso é uma nova Constituinte. Sem mais nem menos. As novas PECs alteram radicalmente o funcionamento do Estado e suas relações com a sociedade.

A tática é ousada. No terreno da política e da disputa de hegemonia, colocaram a mídia de joelhos, impuseram uma pauta diversionista – AI-5, casa 58, fake news etc. – e contaram com um movimento social golpeado desde 2015 por uma recessão planejada que abriu caminho para o desmonte do movimento sindical.

Há muitos bodes na sala. É pouco provável que a extinção de municípios prospere. O centro está na proposta de mudança no artigo 6º. da Carta:
“Parágrafo único. Será observado, na promoção dos direitos sociais, o direito ao equilíbrio fiscal intergeracional.”

Ou seja, constitucionaliza-se o ajuste fiscal.
É essa linha que baliza o arrocho no funcionalismo, a virtual extinção do SUS, a precarização laboral, o fim dos reajustes do salário mínimo, a quase extinção do investimento público e a dominância do financismo.

Vale comparar a ousadia extremista de Bolsonaro e Guedes em onze meses de gestão com a passividade bovina de 13 anos de administração que evitou realizar mudanças estruturais no país. A vida melhorou muito entre 2003-16. Mas isso se deu em espaços consentidos, que não tocaram interesses dos bancos, da imprensa, dos donos da terra e do dinheiro.

Pagamos caro pelo cavalo-de-pau na política econômica sem combinação prévia com o eleitorado. Pagamos pelo legado de 12 milhões de desempregados e por uma depressão que acarretou a queda de 8% do PIB.

Não há prostração possível. O país está se tornando um barril de pólvora social. Estamos na fase de resistência. É preciso ajustar as táticas de luta à nova realidade. A esquerda precisa estar sintonizada às dores e carências da população e se colocar diante dos problemas reais do emprego, do salário, da fome, da saúde etc.

É urgente traduzir o estupro constitucional em cinco pontos claros, sintéticos e compreensíveis.

Será duro. Mas nunca ninguém se colocou do lado canhoto da sociedade esperando sombra e água fresca.

(De uma conversa com Artur Araújo)

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