"Reportagem do The
Intercept Brasil em parceria com a Folha de São Paulo deste sábado (21) aponta
que ex-senador, que teve papel decisivo no golpe de 2016 ao pedir ajuda dos EUA
para derrubar Dilma, aparece como coordenador de propina do PSDB em delação da
OAS para a Lava Jato em papel central de esquema"
Ao negociar acordo de
delação com a Lava Jato, a cúpula da empreiteira OAS descreveu o ex-senador e
ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira em papel central na coordenação de
pagamentos de propinas para campanhas do PSDB, entre elas a do senador José
Serra à Presidência da República, em 2010.
Aloysio
é citado em quatro capítulos como solicitante de repasses em troca de liberação
de dinheiro de obras da prefeitura paulistana e do Governo de São Paulo para a
empreiteira.
Léo
Pinheiro, ex-presidente da OAS, menciona Aloysio sempre como a pessoa que
solicita propina, seja para ele ou para Serra, nas campanhas de 2006 e
2010. Em 2006, Serra venceu a disputa ao Governo de São Paulo. Em 2010,
disputou e perdeu a Presidência, e Aloysio se elegeu ao Senado.
O
empreiteiro da OAS saiu
da cadeia na última terça-feira (17), após ter seu acordo de
colaboração homologado no Supremo Tribunal Federal. Ele estava preso em regime
fechado desde 2016.
Entre
as obras ligadas ao PSDB de São Paulo que o empresário cita como alvo de
suposto desvio estão a ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira, o túnel
da Radial Leste, a rodovia Carvalho Pinto e a linha 4-amarela do Metrô.
A
delação aponta que parte do dinheiro era entregue em espécie a indicados
pelo ex-senador, que chefiou pastas das gestões Serra tanto na prefeitura
(Secretaria de Governo) quanto na administração estadual (Casa Civil).
O ex-senador e ex-ministro
Aloysio Nunes (PSDB) – Danilo Verpa – 19.fev.19/Folhapress
Os
relatos da OAS que implicam Aloysio começam em 2005, logo após Serra ser
empossado prefeito de São Paulo.
Léo
Pinheiro diz ter se reunido com Serra e Aloysio para discutir as obras que a
empresa havia iniciado na gestão Marta Suplicy (na época do PT e que depois
migrou para o MDB, do qual saiu em 2018), como a construção da ponte
estaiada e o túnel da Radial Leste.
Após
a decisão de continuar a obra, conta o empresário, Aloysio o chamou em uma sala
reservada para conversarem na varanda.
“[Na
ocasião] solicitou-me uma adequação do programa da obra para que as alças da
ponte estaiada e do túnel da Radial Leste fossem inauguradas quando José
Serra renunciaria
à prefeitura. Solicitou-me ainda o pagamento de vantagens indevidas no
valor de 5%”, afirmou.
Ele
diz que, em 2006, quando Serra deixou a prefeitura e o vice Gilberto Kassab
(hoje PSD) assumiu, representantes da OAS foram procurados pelo novo prefeito
para informar que seriam mantidos os compromissos de vantagens indevidas
acertados por Aloysio —que continuou na Secretaria Municipal de Governo.
Ao
longo da gestão Kassab, disse o empresário, houve pagamentos de propina
combinados com a OAS nas obras da avenida Jornalista Roberto Marinho e em
contratos da Secretaria Municipal da Habitação.
Uma
proposta de delação com depoimentos de Léo Pinheiro foi compartilhada por
procuradores da Lava Jato no aplicativo Telegram e está no material que foi
enviado por fonte anônima para o The Intercept Brasil. Os
arquivos foram analisados pela Folha e
pelo site.
A
proposta de Léo Pinheiro enviada pelos procuradores é de junho de
2017, mas a Folha apurou
que os relatos continuam na versão final, homologada agora pelo ministro
Edson Fachin (STF).
Em
um trecho desses relatos, Léo Pinheiro diz que, em 2007, já na gestão Serra no
Governo de São Paulo, Aloysio se reuniu com representantes de cinco grandes
empreiteiras na casa de um suspeito de operar para o PSDB e solicitou propina
de R$ 5 milhões.
Em
troca, as empresas esperavam a liberação de R$ 180 milhões relativos à
construção da linha 4-amarela do Metrô. O episódio já
foi relatado pela Folha. Nele,
Léo Pinheiro diz que autorizou o pagamento da parte da OAS, R$ 1 milhão, em
espécie, para o então deputado Rodrigo Garcia (DEM), hoje vice de João Doria
(PSDB) no governo.
As
outras duas menções a Aloysio são a respeito das eleições de 2010, quando Serra
concorreu ao Planalto e ele, ao Senado por São Paulo. Ambas fazem referência às
obras da rodovia Carvalho Pinto.
“Aloysio
ainda deixou claro, durante a reunião, que para que houvesse recebimento dos
créditos pendentes seria necessária uma audiência com o governador José Serra
para informar que a OAS iria dar continuidade às obras da linha 4 do Metrô”,
diz Léo Pinheiro no documento.
“Essa
foi a ‘senha’ que combinei com Aloysio Nunes para que o governador Serra
tivesse ciência do ajuste”, afirma.
Depois
da reunião, diz ele, foi celebrado um acordo judicial com a Dersa (estatal
rodoviária) para o pagamento pendente, no valor de R$ 54 milhões.
Ele
diz que, então, fez uma doação oficial à campanha de Serra no valor de R$ 2,8
milhões e que outros R$ 2,5 milhões foram pagos em espécie a três
emissários do governador: a Fortes, a Sérgio Freitas, tesoureiro da
campanha, e a Luis Sobral, que trabalhava para o partido.
Segundo José
Ricardo Breghirolli, ex-funcionário
da OAS que
afirma ter feito entregas a Sobral, os valores eram levados em envelopes pardos
no comitê de campanha, no centro de São Paulo, em blocos de R$ 5.000 com até R$
50 mil por envelope. As notas iam dentro de uma pasta de notebook. Esse
relato também foi homologado pelo Supremo.
Após
a entrega, disse Breghirolli, jornais amassados eram colocados dentro da pasta
para que ela voltasse com o mesmo volume que entrou no prédio. Para a campanha
de Aloysio ao Senado, Léo Pinheiro disse ter dado R$ 1 milhão em espécie, em
cinco parcelas de R$ 200 mil.
Nos
últimos anos, Aloysio se tornou ministro das Relações Exteriores do governo
Michel Temer (MDB) e, neste ano, virou presidente da Investe SP, agência de
estímulo a investimentos no estado, do governo João Doria.
No
entanto afastou-se
em fevereiro, após virar alvo de uma fase da Operação Lava Jato que
prendeu o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo
Preto, apontado como operador de propina de tucanos.
OUTRO LADO
O
ex-senador Aloysio Nunes negou à Folha ter
cometido crimes e disse que pediu doações oficiais para a OAS em várias
campanhas, que eram legais à época, “sem jamais exigir qualquer tipo de
contrapartida”.
“Tudo
o mais só posso atribuir à pressão psicológica exercida pelos procuradores para
obter delações mentirosas de alguém há tanto tempo encarcerado”, disse, em
nota, Aloysio.
O
ex-prefeito Gilberto Kassab disse que nunca teve relação próxima com Léo
Pinheiro e que jamais fez reunião com a finalidade de manter pagamentos
ilegais.
“Divulgar
especulações feitas no tortuoso processo de investigação destrói reputações e
acaba por enfraquecer o modelo da delação premiada, ao colocar em dúvida as
informações apresentadas”, disse.
Márcio
Fortes afirmou que nunca esteve na presença de Léo Pinheiro, “muito menos
em qualquer reunião com o Aloysio”. “Não sei quem é [Léo Pinheiro], se eu o
visse na rua não saberia quem era. Isso tudo [o que ele relatou] é um mundo
inexistente.”
Luis Sobral
disse, em nota, que não conhece nem participou das supostas reuniões apontadas
pelos delatores. “Nunca sugeri, orientei, nem me reuni com ninguém para receber
valores em espécie de nenhuma natureza. Não conheço pessoalmente os citados,
inclusive”, afirmou.
Ele
disse que exerceu um cargo técnico de contabilidade das contas da campanha
e que, segundo ele, tudo foi devidamente registrado na Justiça
Eleitoral.
“Repudio
essa tática sórdida pela qual um criminoso confesso usa o nome de uma pessoa
inocente —que foi contratado oficialmente pela campanha e exerceu uma função
pública— com o objetivo de dar veracidade ao seu depoimento e obter
benefícios judiciais”, acrescentou.
Procurado, o
senador José Serra não se manifestou sobre as declarações de Léo
Pinheiro. A reportagem não conseguiu localizar Sérgio Freitas.
A
defesa de Léo Pinheiro não se manifestou.
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