O
jornal britânico The Guardian ganhou seu primeiro prêmio
Pulitzer graças ao trabalho de Glenn Greenwald e Laura Poitras, os dois
jornalistas que publicaram os
documentos vazados por Edward Snowden, ex-agente da Agência Nacional de
Segurança (NSA). (foto Breitbart)
Veja Materia completa
Edward Snowden durante uma entrevista
em junho de 2013. THE GUARDIAN AFP
O ‘The Guardian’ e o ‘Post’ ganham o Pulitzer pelas revelações de Snowden
O jornal britânico The Guardian ganhou
seu primeiro prêmio Pulitzer graças ao trabalho de Glenn Greenwald e Laura
Poitras, os dois jornalistas que publicaram os
documentos vazados por Edward Snowden, ex-agente da Agência Nacional de
Segurança (NSA). O
furo jornalístico, compartilhado inicialmente com o The Washington Post, é
considerado uma das notícias mais importantes dos últimos anos e consolidou a
influência do The Guardian no setor midiático norte-americano.
O júri destacou que a reportagem exclusiva do Post “ajudou
os cidadãos a entenderem como as revelações se encaixam no âmbito da segurança
nacional”, além de observar que a contribuição do britânico The
Guardian “provocou, graças a uma investigação agressiva, um debate
acerca da relação entre o Governo e os cidadãos em assuntos de segurança e
privacidade”. Snowden, por sua vez, declarou que o prêmio é “o reconhecimento
do papel dos cidadãos no Governo” e agradeceu aos jornalistas por terem
contribuído para trazer à tona as suas revelações.
Nas últimas semanas, os meios de comunicação dos EUA
destacaram a polêmica envolvendo a possibilidade dessa premiação, já que o furo
teria sido praticamente impossível sem os
vazamentos de Snowden, que foi acusado de traição e se asilou na Rússia
após se apropriar de documentos sigilosos. O Pulitzer não premiava trabalhos
jornalísticos baseados no vazamento de informações desde as reportagens sobre
os chamados Papéis do Pentágono, em 1971.
Em sua 98ª. edição, o Pulitzer também reconheceu, na
categoria de notícias de última hora, a cobertura do jornal The Boston
Globe após o atentado de
abril de 2013 na Maratona de Boston, em que três pessoas morreram e 260
ficaram feridas. O The New York Times, publicação mais premiada na
história do Pulitzer, somou mais dois troféus, na categoria fotografia, graças
às imagens
feitas por Tyler Hicks durante um ataque terrorista em um shopping
center de Nairóbi e ao trabalho do seu colega Josh Harner retratando uma das
vítimas do atentado de Boston.
Pela segunda vez, o Pulitzer reconheceu o jornalismo de
uma organização sem fins lucrativos, o Centro para a Integridade Pública, que
repete a conquista da ProPublica. Chris Hamby, um dos seus repórteres, revelou
uma trama em que médicos e advogados conspiraram para negar assistência médica
a mineiros com doenças pulmonares, uma denúncia que levou a suposta negligência
a ser resolvida pela Justiça.
O prêmio na categoria de jornalismo internacional foi
dado a Jason Szep e Andrew Marshal, da agência Reuters, por sua reportagem a
respeito da violenta perseguição à minoria muçulmana que foge de Myanmar. Um
jornal local do Colorado, o The Gazette, recebeu o prêmio de
reportagem nacional por seu trabalho investigativo a respeito da situação dos
veteranos após deixarem o Exército. A organização destacou as ferramentas
on-line que complementam a informação dessa reportagem.
Mais uma vez, o Pulitzer chamou a atenção para o
impacto que os trabalhos publicados tiveram sobre os cidadãos. É o caso da
investigação realizada pelo The Tampa Bay Times sobre as
regras hipotecárias que causaram uma disparada nos despejos na cidade, e que
levou a reformas legislativas na Flórida.
O material de Snowden que rendeu o Pulitzer ao The
Guardian e ao The Washington Post incluía milhares de
documentos pertencentes à NSA, trazendo à tona diversos programas da agência,
como a coleta de dados de telefonemas e e-mails de cidadãos norte-americanos.
Nas páginas do The Guardian, Greenwald e Poitras revelaram também
as escutas do Governo norte-americano contra líderes internacionais como a
chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, e a presidenta brasileira,
Dilma Rousseff, provocando
uma crise diplomática sem precedentes nos últimos anos. Na semana passada,
Greenwald e Poitras receberam o prêmio George Polk, dividido com o jornalista
Barton Gellman, do The Washington Post, em reconhecimento pelo
mesmo trabalho.
O júri do Pulitzer é composto por 19 jornalistas,
editores, executivos e professores universitários. O prêmio homenageia
Joseph Pulitzer, fundador da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, e
reconhece ano após ano os melhores trabalhos da imprensa tradicional e na
internet, bem como nos campos da poesia, ficção e música.
A
CONSOLIDAÇÃO DE 'THE GUARDIAN' NOS ESTADOS UNIDOS
C.
F. P.
O
jornal The Guardian comemora o Pulitzer, nesta
segunda-feira, com “orgulho e gratidão”, diz a diretora da sua edição
norte-americana, Janine Gibson. A publicação britânica desembarcou nos
Estados Unidos em 2011, com cerca de 20 jornalistas, e apenas dois anos
depois confirmava sua relevância no panorama midiático norte-americano
compartilhando um furo de importância internacional.
O
júri do Pulitzer acaba de reconhecer essa aposta. “Foi um ano de trabalho
intenso, exaustivo e às vezes arrepiante nessa investigação”, afirma Gibson a
respeito da revelação, publicada inicialmente em conjunto com o The
Washington Post. O The Guardian passou os meses seguinte
explorando o material, apesar das pressões que enfrentou, tanto nos Estados
Unidos quanto no Reino Unido. “Nós nos sentimos muito gratos pelo
reconhecimento por parte dos nossos companheiros de que as revelações de
Edward Snowden e o trabalho dos jornalistas implicados representam uma grande
conquista no serviço público do jornalismo”.
O
jornal britânico decidiu criar uma edição norte-americana – combinando
conteúdos próprios gerados em Londres e em Nova York – depois de observar que
um terço de seus leitores acessava o site a partir dos EUA. As aspirações
do The Guardian nunca foram de competir com os meios
norte-americanos, e sim oferecer a visão de jornalistas estrangeiros a
respeito da atualidade norte-americana, abordando temas e pontos de vista
ausentes nos veículos nacionais. Essa aposta ainda não se reverteu em lucros
que tirem o The Guardian das dificuldades econômicas que
atravessa, mas o Pulitzer também é um reconhecimento a essa estratégia.
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