Representantes de transportadores autônomos admitem que
ficou mais difícil controlar o clamor por uma paralisação nacional. Além da indignação com a estatal, há insatisfação porque o governo federal não estaria cumprindo as medidas prometidas.(foto:
Marcelo Camargo/Agência Brasil
A ameaça de greve dos caminhoneiros está de volta,
motivada pelo reajuste de 2,56% do óleo diesel, anunciado ontem pela Petrobras.
A indignação da categoria não é só contra a estatal, mas também por causa de
medidas não cumpridas pelo governo. Representantes de transportadores autônomos
admitem que, no conjunto da obra, ficou mais difícil controlar o clamor por uma
paralisação nacional. O aumento de preço sobre o principal
combustível utilizado pelos caminhões teria repercutido imediatamente no grupo
de WhatsApp do Comando Nacional do Transporte, o principal canal de comunicação
em que líderes dialogam sobre pautas da categoria. Os mais revoltados iniciaram
um debate sobre uma data de paralisação por meio de obstrução de rodovias, como
aconteceu em 2018. Os menos indignados sugeriram chegar em comboio a Brasília e
permanecer no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Seria uma forma de
pressionar o governo, sem greve, mas com intimidação.
A maioria dos autônomos cogita unir forças com outra
parcela da categoria, capitaneada por Wanderlei Alves, o Dedéco, que havia
incitado uma greve para 29 de abril, mas abortou a ideia depois de ser atendido
pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
A reunião de Dedéco com o governo, em 22 de abril,
ampliou um distanciamento que existia dentro da categoria. O autônomo, que
representa alguns transportadores na Região Sul, sobretudo no Paraná, se
alinhou aos sindicatos, representados pela Confederação Nacional dos
Transportadores Autônomos (CNTA). A proximidade enfureceu uma parcela maior de
lideranças que não se sentem representadas pela entidade. A revolta contra o
Estado, no entanto, pode unir a classe, admite Ivar Schmidt, líder do Comando
Nacional do Transporte.
Caso essa união aconteça, a greve seria muito
semelhante à de 2018. “Somos representantes de um setor que depende diretamente
de uma economia que parou. Não tem mais carga para transportar. E isso vai
criando um clima bélico que está por um fio para explodir com a falta de pautas
atendidas”, analisou Schmidt. A classe cobra, sobretudo, as fiscalizações da
jornada de trabalho e do piso mínimo de frete. O reajuste do diesel é mais um
elemento que impacta o setor, levando o valor do combustível de R$ R$ 2,2470
para R$ 2,3047 nas refinarias.
Fiscalização
A fiscalização da jornada de trabalho pela Polícia
Rodoviária Federal (PRF) é uma exigência que, na prática, pode equilibrar o
excesso de oferta com a demanda — o principal problema do setor —, por meio de
uma redução prevista do número de caminhões completando os percursos de carga e
descarga. O governo se dispôs a construir pontos de parada para que possam
descansar, mas os autônomos alegam que é algo paliativo, uma vez que,
atualmente, repousam em postos de combustíveis e outros pontos.
O monitoramento do piso mínimo é outra exigência que
visa cumprir a legislação. Em 24 de abril, a Agência Nacional de Transporte
Terrestres (ANTT) reajustou a tabela em uma média de 4,13%, após uma oscilação
do óleo diesel superior a 10,69% no período acumulado desde janeiro.
Entretanto, caminhoneiros alegam que a correção não é cumprida. A fiscalização
pode ser feita pelo Documento de Transporte Eletrônico (DT-e), ferramenta que
reunirá uma série de informações contratuais.
O mecanismo está em gestação na ANTT, que prometeu
implementar ainda em abril, mas retardou a entrega alegando problemas no
sistema. É o que afirma o caminhoneiro Wallace Landim, um dos líderes da
categoria e um dos principais responsáveis pela última greve. Na terça, ele se
reunirá com os técnicos competentes da criação. Se a resposta for negativa, com
apresentação de mais prazo, garante que atuará para mobilizar uma paralisação.
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