Parte do campus da UFSC, uma das 10 mais
importantes universidades brasileiras. Foto Agecom/UFSC
Ao agir para destruir o conhecimento e sucatear as
universidades, o governo de ultradireita que se instalou no Brasil em 1 de
janeiro de 2019 segue um projeto que não é voltado apenas à privatização das
instituições de ensino superior. Também tem essa finalidade, mas o propósito é
bem mais abrangente. Sufocar o pensamento crítico, a pesquisa independente, a
autonomia universitária. Tudo isso vem da construção dos movimentos de
extrema-direita surgidos após as manifestações de junho de 2013. Embora a
presidenta Dilma Rousseff tenha sido reeleita em 2014, esses movimentos
ganharam a simpatia de parte da população, em especial da classe média. O
resultado, como se sabe, foi o golpe de 2016, a demonização das esquerdas e de
qualquer segmento progressista, a condenação e prisão do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e a ascensão da obscura e perigosa figura de Jair
Bolsonaro, com seu séquito de gorilas e trogloditas em geral.
Os ataques às universidades não são recentes. A UFSC,
em especial, vem sendo agredida há alguns anos, com ações internas, de grupos
de ultradireita que se organizaram em torno do MBL (Movimento Brasil Livre),
Vem Pra Rua, DSC (Direita Santa Catarina), entre outras facções. Foram esses
grupos, agindo coletiva ou isoladamente), que incitaram ações da Polícia
Federal e da CGU (Controladoria Geral da União) contra a instituição, com
razoável apoio da mídia tradicional. Segmentos da mídia estão sempre à cata de
informações desabonadoras sobre a universidade e contam com a colaboração de
professores e alunos alinhados ao bolsonarismo. Quando não há fato novo,
requentam-se questões antigas, como o inquérito da Operação Ouvidos Moucos, que
resultou em nada, mas que causou a trágica morte do reitor Luiz Carlos
Cancellier de Olivo, em 2017. À falta de fatos novos, a NSC TV, ex-RBS TV,
cavou há poucos dias a pauta sobre o aniversário do inquérito (um ano do
encerramento). Pauta sob medida para alimentar ou retroalimentar o ódio da
plateia histérica.
O atual ministro da Educação, Abraham Weintraub, um
economista que não conhece nada do setor, anunciou uma cruzada contra as
universidades, na terça-feira (30/4), com os cortes de recursos para aquelas
que supostamente promovem “balbúrdia” em suas dependências ou não tenham
resultados significativos em ensino, pesquisa e extensão. No caso da UFSC, um
absurdo, porque a instituição está entre as 10 mais importantes do Brasil e tem
destaque internacional no desenvolvimento da ciência.
A caminho da aula: UFSC é um centro de
excelência da graduação, pesquisa e extensão – Foto do blog
A intenção do bolsonarismo é inviabilizar o
funcionamento das universidades, para enquadrá-las no modelo comportamental que
os indigentes mentais do governo imaginam ser o ideal: acrítico, atrasado,
funcionalista e a serviço das planilhas do capitalismo financeiro (representado
pelo próprio ministro da Educação e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes).
A declaração de guerra de
Weintraub às universidades públicas é de uma irresponsabilidade descomunal,
denunciada tanto no Brasil, quanto no exterior. Não se trata apenas de
sucateamento, mas de sufocamento do conceito clássico de ensino superior.
Universidade é um centro de excelência, de construção do desenvolvimento
intelectual e da produção científica. Universidade produz e reproduz
conhecimento. É disso que o bolsonarismo e seus grupos de apoio têm medo. O
medo da resistência intelectual e política proporcionada pela vivência no
contexto universitário. Os indigentes mentais temem que seu projeto de poder
seja ameaçado por essa resistência, que eles chamam burramente de “balbúrdia”.
Porque os exemplos históricos são abundantes. No caso da UFSC, basta lembrar o
episódio da Novembrada, que completa 40 anos em novembro de 2019. A organização
do protesto contra o general Figueiredo, quinto presidente da ditadura
civil-militar, começou dentro do campus da Trindade. E se ampliou pela cidade,
antes, durante e depois das manifestações na Praça 15 de Novembro.
A Novembrada (foto: em primeiro plano Amilton
Alexandre, o Mosquito, um dos presos pela ditadura) foi um movimento de
ruptura, que inspirou o crescimento da oposição democrática (e progressista),
da luta por direitos civis, pela Constituinte de 1988, pela volta das eleições
diretas. Os saudosistas da ditadura, que se assanharam após as manifestações de
junho de 2013, estão vivos e muitos deles atuam no ambiente acadêmico,
sabotando projetos e combatendo o pensamento crítico e questionador. As ações
da extrema-direita no ambiente universitário, com apoio da mídia tradicional,
respaldam e estimulam o sucateamento das instituições de ensino superior. Há um
projeto de poder por trás disso. Um projeto de dominação intelectual e
financeira. Para combatê-lo, é preciso multiplicar a resistência civil,
conquistando o apoio da sociedade. Como fazer isso é o desafio que se apresenta
para todos nós, que amamos e respeitamos a UFSC, sabemos de sua importância
histórica e educacional.
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