quarta-feira, 8 de maio de 2019

Guerra às universidades não é só burrice, é um projeto de poder e dominação

Parte do campus da UFSC, uma das 10 mais importantes universidades brasileiras. Foto Agecom/UFSC

Por Blog Carlos Damião

Ao agir para destruir o conhecimento e sucatear as universidades, o governo de ultradireita que se instalou no Brasil em 1 de janeiro de 2019 segue um projeto que não é voltado apenas à privatização das instituições de ensino superior. Também tem essa finalidade, mas o propósito é bem mais abrangente. Sufocar o pensamento crítico, a pesquisa independente, a autonomia universitária. Tudo isso vem da construção dos movimentos de extrema-direita surgidos após as manifestações de junho de 2013. Embora a presidenta Dilma Rousseff tenha sido reeleita em 2014, esses movimentos ganharam a simpatia de parte da população, em especial da classe média. O resultado, como se sabe, foi o golpe de 2016, a demonização das esquerdas e de qualquer segmento progressista, a condenação e prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ascensão da obscura e perigosa figura de Jair Bolsonaro, com seu séquito de gorilas e trogloditas em geral.

Os ataques às universidades não são recentes. A UFSC, em especial, vem sendo agredida há alguns anos, com ações internas, de grupos de ultradireita que se organizaram em torno do MBL (Movimento Brasil Livre), Vem Pra Rua, DSC (Direita Santa Catarina), entre outras facções. Foram esses grupos, agindo coletiva ou isoladamente), que incitaram ações da Polícia Federal e da CGU (Controladoria Geral da União) contra a instituição, com razoável apoio da mídia tradicional. Segmentos da mídia estão sempre à cata de informações desabonadoras sobre a universidade e contam com a colaboração de professores e alunos alinhados ao bolsonarismo. Quando não há fato novo, requentam-se questões antigas, como o inquérito da Operação Ouvidos Moucos, que resultou em nada, mas que causou a trágica morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, em 2017. À falta de fatos novos, a NSC TV, ex-RBS TV, cavou há poucos dias a pauta sobre o aniversário do inquérito (um ano do encerramento). Pauta sob medida para alimentar ou retroalimentar o ódio da plateia histérica.

O atual ministro da Educação, Abraham Weintraub, um economista que não conhece nada do setor, anunciou uma cruzada contra as universidades, na terça-feira (30/4), com os cortes de recursos para aquelas que supostamente promovem “balbúrdia” em suas dependências ou não tenham resultados significativos em ensino, pesquisa e extensão. No caso da UFSC, um absurdo, porque a instituição está entre as 10 mais importantes do Brasil e tem destaque internacional no desenvolvimento da ciência.

A caminho da aula: UFSC é um centro de excelência da graduação, pesquisa e extensão – Foto do blog

A intenção do bolsonarismo é inviabilizar o funcionamento das universidades, para enquadrá-las no modelo comportamental que os indigentes mentais do governo imaginam ser o ideal: acrítico, atrasado, funcionalista e a serviço das planilhas do capitalismo financeiro (representado pelo próprio ministro da Educação e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes).

A declaração de guerra de Weintraub às universidades públicas é de uma irresponsabilidade descomunal, denunciada tanto no Brasil, quanto no exterior. Não se trata apenas de sucateamento, mas de sufocamento do conceito clássico de ensino superior. Universidade é um centro de excelência, de construção do desenvolvimento intelectual e da produção científica. Universidade produz e reproduz conhecimento. É disso que o bolsonarismo e seus grupos de apoio têm medo. O medo da resistência intelectual e política proporcionada pela vivência no contexto universitário. Os indigentes mentais temem que seu projeto de poder seja ameaçado por essa resistência, que eles chamam burramente de “balbúrdia”. Porque os exemplos históricos são abundantes. No caso da UFSC, basta lembrar o episódio da Novembrada, que completa 40 anos em novembro de 2019. A organização do protesto contra o general Figueiredo, quinto presidente da ditadura civil-militar, começou dentro do campus da Trindade. E se ampliou pela cidade, antes, durante e depois das manifestações na Praça 15 de Novembro.


A Novembrada (foto: em primeiro plano Amilton Alexandre, o Mosquito, um dos presos pela ditadura) foi um movimento de ruptura, que inspirou o crescimento da oposição democrática (e progressista), da luta por direitos civis, pela Constituinte de 1988, pela volta das eleições diretas. Os saudosistas da ditadura, que se assanharam após as manifestações de junho de 2013, estão vivos e muitos deles atuam no ambiente acadêmico, sabotando projetos e combatendo o pensamento crítico e questionador. As ações da extrema-direita no ambiente universitário, com apoio da mídia tradicional, respaldam e estimulam o sucateamento das instituições de ensino superior. Há um projeto de poder por trás disso. Um projeto de dominação intelectual e financeira.  Para combatê-lo, é preciso multiplicar a resistência civil, conquistando o apoio da sociedade. Como fazer isso é o desafio que se apresenta para todos nós, que amamos e respeitamos a UFSC, sabemos de sua importância histórica e educacional.

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