Comissões de Defesa dos
Direitos da Mulher e de Desenvolvimento Urbano da Câmara debatem o direito das
mulheres à cidade
Pesquisa mostra que 92% das usuárias de metrô concordam
com a implantação do “vagão rosa”, embora 88% achem que não é o suficiente para
resolver o problema. Em São Paulo, ocorre um caso de assédio no transporte
público a cada dois dias
A criação de vagões exclusivos no metrô para mulheres,
como vem ocorrendo em diversas capitais brasileiras, divide opiniões de
feministas, mas é consenso que a solução para o problema do assédio no
transporte público deve ir além da criação deles. O tema foi um dos discutidos
em audiência pública sobre o direito das mulheres à cidade, promovida pelas
comissões de Defesa dos Direitos da Mulher; e de Desenvolvimento Urbano da
Câmara nesta quinta-feira (14).
A jornalista Flavia Gianini, organizadora do ato “Então eu grito”,
destacou pesquisa que indica 92% das usuárias de metrô favoráveis ao “vagão
rosa”, embora 88% o considerem insuficiente para resolver o problema. “Segregar
é uma loucura, mas qual é a resposta imediata que podemos dar ao problema do
assédio?”, questionou. Ela observou que a solução do vagão exclusivo é apenas
paliativa para garantir a segurança das mulheres, já que culpabiliza a mulher
pelo assédio, responsabilizando-a pelo problema, e que é preciso pensar numa
solução definitiva.
Entre outras iniciativas para atacar o problema, Flavia
defendeu canais de denúncia imediata de casos de assédio, por WhatsApp e SMS,
como adotados no metrô da cidade de São Paulo. Na capital paulista, é relatado
um caso de assédio em transporte público a cada dois dias, a maioria dos casos
entre 7h e 10h da manhã. Porém, segundo ela, muitas vezes a mulher é
desestimulada pelos próprios seguranças do metrô a prestar denúncias.
Por isso, ela defendeu ainda o incentivo para que as
mulheres denunciem o assédio; a educação de gênero da população, com o combate
ao que chama de “masculinidade tóxica”; e a ocupação dos espaços de decisão
pelas mulheres. Além disso, ela disse que é preciso conscientizar os agentes
públicos, como delegados de polícia, para classificar corretamente os atos como
assédio e estupro, e não como contravenção penal.
Já Sonia Coelho, representante da Marcha Mundial das
Mulheres, criticou os vagões de metrô exclusivos para mulheres. “Queremos estar
em todos os vagões e sendo respeitadas e livres de violência. Ter um vagão
exclusivo é dizer que o machismo vai ficar livre e que nós vamos ficar
aprisionadas em um vagão”, defendeu. Ela salientou que as mulheres são maioria
entre os usuários do transporte público. No Rio de Janeiro, por exemplo, elas
representam 56% dos usuários do metrô.
Sonia acredita que a ação dos governos é essencial para
a construção de políticas que alterem as desigualdades de gênero e raça nas
cidades. Entre as iniciativas necessárias, mencionou o investimento em
iluminação das vias públicas e em redes de atendimento a vítimas de violência,
além campanhas permanentes contra o assédio sexual.
Machismo e racismo
A arquiteta e urbanista Joice Berth ressaltou que o machismo e o racismo são parte da construção e da formação das cidades brasileiras. “A gente tem na cidade a lógica da casa grande e senzala, com áreas nobres, espaços maioritariamente brancos, e as áreas de periferia e favelas, com a negritude em massa morando nesses espaços”, disse.
A arquiteta e urbanista Joice Berth ressaltou que o machismo e o racismo são parte da construção e da formação das cidades brasileiras. “A gente tem na cidade a lógica da casa grande e senzala, com áreas nobres, espaços maioritariamente brancos, e as áreas de periferia e favelas, com a negritude em massa morando nesses espaços”, disse.
No caso do gênero, conforme ela, as mulheres têm uma
série de impedimentos que não são institucionalizados. Ela ressalta que grande
parte das mulheres já sofreu assédio e as que dizem que não sofreram muitas
vezes não são conscientes de que determinadas ações masculinas são expressões
do machismo. “Há mulheres que acham que transitar na cidade e ser abordadas por
um homem é elogioso”, citou.
Segundo ela, as mulheres negras têm a cidadania
mutilada, por não vivenciarem a cidade da maneira que merecem. “A gente nem
cogita 3h da manhã, numa noite de verão, ir tomar um sorvete”, citou,
destacando o risco de todas as formas de violência. “A gente se priva de uma
série de coisas na cidade, deixar de fazer coisas, deixar de frequentar
lugares”, completou. Isso, de acordo com a arquiteta, leva muitas vezes ao
isolamento das mulheres e à falta de confiança em andar sozinha, afetando sua
autonomia.
Direito à cidade
“A mulher produz a cidade, e não usufrui o direito à cidade”, disse a professora Terezinha Gonzaga, do Centro Universitário de Votuporanga (SP). Segundo ela, a exclusão tem sexo, raça/etnia, classe social e orientação sexual. Ela salientou que as mulheres negras em sua maioria estão nas favelas, são o maior número de analfabetas, fazem o trabalho doméstico, ganham os piores salários e assistem diariamente à execução de seus filhos. “A violência de gênero e o feminicídio aumentam neste segmento da população”, acrescentou.
“A mulher produz a cidade, e não usufrui o direito à cidade”, disse a professora Terezinha Gonzaga, do Centro Universitário de Votuporanga (SP). Segundo ela, a exclusão tem sexo, raça/etnia, classe social e orientação sexual. Ela salientou que as mulheres negras em sua maioria estão nas favelas, são o maior número de analfabetas, fazem o trabalho doméstico, ganham os piores salários e assistem diariamente à execução de seus filhos. “A violência de gênero e o feminicídio aumentam neste segmento da população”, acrescentou.
Ela lembrou que a vereadora do Rio de Janeiro Marielle
Franco, “mulher que se apoderou do espaço urbano e do poder de fala”, foi
executada há três meses. Os culpados pelo caso ainda não foram apontados. A
professora destacou ainda que o Brasil é o quinto país em violência de gênero
no ranking mundial, com 12 assassinatos de mulheres e 135 estupros por dia.
“Não podemos ser subalternas e passivas, e já é um
rompimento estarmos fazendo esta audiência aqui”, afirmou a presidente da
Comissão de Desenvolvimento Urbano, Margarida Salomão (PT-MG), que propôs o
debate.
Reportagem – Lara Haje
Edição – Geórgia Moraes
Edição – Geórgia Moraes
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