*Por Maurício da
Silva
Como está o Brasil após utilizar como meio de produção,
por 330 anos, o trabalho escravo de homens e mulheres negras e 130 anos após
libertá-los por meio da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel no dia 13 de
maio de 1888?
O Brasil está no topo dos países mais desiguais do mundo
(seis bilionários têm a mesma riqueza que 100 milhões de brasileiros mais
pobres, segundo a Oxfam Brasil). Isso impede o desenvolvimento sustentável e
incentiva mais xenofobia, racismo e violência (que em 2016 assassinou 61 mil
pessoas e custou 372 bilhões de reais para todos os brasileiros), como aponta
Thomas Pikkety, autor de "O Capital no Século XXI".
Portanto, é situação que interessa à todos os
brasileiros e não só aos homens e mulheres negras, embora sejam eles os mais
fortemente atingidos: constituem 74% dos mais pobres, 67% dos encarcerados e
82% dos assassinados.
E não é porque são menos inteligentes. Cruz e Souza
(1861-1898) foi o maior poeta simbolista do Brasil e Antonieta de Barros
(1901-1952) foi deputada estadual catarinense duas vezes, numa época em que aos
homens e mulheres negras eram negadas, também, as letras. Ambos, contudo,
circunstancialmente, receberam educação de qualidade.
Na raiz da brutal desigualdade social no Brasil está a
opção do homem de explorar o próprio homem para obter lucro, viabilizada por
meio de políticas públicas que beneficiam os mais ricos.
Na Antiguidade Clássica, escravo era todo povo dominado
por outro, independente da cor da pele. Do século XVI ao XIX, homens e mulheres
negras foram arrastados da África para serem escravizados nas Américas, com
destaque para o Brasil. Nos dias atuais, o tráfico de pessoas, rende US$ 32
milhões anuais, segundo a ONU. O ‘trabalho análogo ao trabalho escravo’ (que
atinge 160 mil pessoas no Brasil, inclusive, em Santa Catarina), só não foi
legalizado no Brasil, no ano de 2017, por meio da Portaria nº 1.129/2017,
devido a fortes pressões, inclusive internacionais. A Reforma Trabalhista
recebeu protestos, inclusive da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, que, este
ano, na Avenida, perguntou: “a escravidão acabou mesmo no Brasil?”.
Na prática, 1) Os pobres pagam mais impostos que os
ricos (“a carga tributária bruta de quem ganha até dois salários mínimos fica
ao redor de 53,9%, em comparação a 29% pagos por quem ganha mais de 30 salários
mínimos”); 2) O Ensino Básico recebe recursos quatro vezes menor que o Superior
(apenas 30% dos alunos que concluem o Ensino Fundamental nas escolas públicas
“aprendem o adequado” em Português e, 14 %, em Matemática; 3) A Justiça é
duríssima com os ‘miúdos’ e branda com os ‘graúdos’ o que incentiva as trapaças
milionárias e, 4) O Preconceito, que deprecia, causa auto preconceito e exclui
da escola e do trabalho.
O Brasil desativa os mecanismos que produzem
desigualdade ou admite que a ‘abolição’ serviu para modernizar as formas de
explorar pessoas com o objetivo de obter lucro.
*(Prof. Maurício da Silva, mestre em Educação).
Nenhum comentário:
Postar um comentário