Nelson Mello incluiu em
seu acordo repasses de R$ 11,5 milhões para a campanha do atual senador Paulo
Bauer (PSDB-SC) ao governo de Santa Catarina (grThirteen/Thinkstock)
Por Fabio Serapião e Fausto Macedo, do Estadão Conteúdo
Brasília e São Paulo – O delator Nelson Mello,
ex-diretor de Relações Institucionais Hypermarcas,
atual Hypera Pharma, incluiu em seu acordo de colaboração premiada repasses de
R$ 11,5 milhões para a campanha do atual senador Paulo Bauer (PSDB-SC) ao
governo de Santa Catarina, em 2014. Os repasses, segundo Mello, teriam sido
feitos por meio de contratos fictícios com três empresas.
A revelação do delator deu origem a um inquérito que
tramita sob relatoria do ministro Edson Fachin,
no Supremo Tribunal Federal (STF). O jornal O
Estado de S. Paulo revelou que a PF investiga
se Mello omitiu informações em sua delação para proteger o maior acionista da
Hypera Pharma, João Alvez Queiroz Filho, e o CEO da empresa, Cláudio Bergamo.
Os dois foram alvos de busca e apreensão na operação Tira-Teima, deflagrada
pela PF na terça-feira, dia 10.
A informação sobre os repasses ao senador foi
encaminhada à Procuradoria-geral da República após Mello ser questionado em 4
de julho do ano passado, meses após fechar seu acordo, sobre pagamentos da
farmacêutica para as empresas Ycatu Saneamento, Prade & Prade Advogados e
Instituto Paraná Pesquisas.
“Que os nomes das empresas inicialmente mencionadas,
Ycatu, Prade e Prade Advogados e Instituto Paraná, tem quase absoluta certeza
que não foram com o Milton Lyra; que apenas Funaro e Milton Lyra pediram a
celebração de contratos fictícios ao depoente”, disse Mello à PGR no início de
junho.
Cerca de 20 dias após essa primeira versão sobre os
contratos, Mello, por meio de seu advogado, enviou à PGR “esclarecimentos
adicionais”. No documento, o delator explica que nunca teve “motivo para
ocultar a existência destes contratos e a omissão decorreu da circunstância de
estar focado apenas nas pessoas de Lúcio Funaro e Milton Lyra.”
Os dois, apontados como operadores do MDB, foram os
únicos citados na primeira versão da delação de Mello como intermediários de
repasses para parlamentares do MDB.
Na segunda versão, entregue em 28 de julho, Mello
incluiu os repasses às três empresas e explicou que “tais contratos, sem a
efetiva prestação de serviços, foram firmados para ocultar doação não declarada
de valores para a campanha do senador Paulo Bauer, em 2014, para o governo de
Santa Catarina”.
“A doação foi feita porque o declarante considerou
importante desenvolver laços políticos com parlamentar influente do PSDB, que
concorre ao governo estadual e participava ativamente de assuntos relacionados
à guerra fiscal entre os Estados e à indústria farmacêutica”, disse Mello.
Defesas
O senador Paulo Bauer (PSDB-SC), por meio de sua
assessoria, disse que todos os recursos utilizados na campanha de 2014 “foram
rigorosamente contabilizados, tendo sido as contas aprovadas pela Justiça
Eleitoral” e que defende “que a Justiça cumpra o seu papel e que os órgãos de
investigação realizem com isenção e liberdade total o trabalho que a
Constituição Federal lhes atribui”.
O Instituto Paraná Pesquisas, em nota, afirma que tem
“compromisso com a excelência no trabalho, com respeito à verdade, à integridade
e à retidão” e que “está à disposição das autoridades para prestar qualquer
esclarecimento necessário e comprovar que jamais desviou-se do caminho da
integridade”.
Em nota, a Hypera Pharma afirma: “A Companhia reitera
que (a) está colaborando e colaborará com as investigações; (b) os atos
praticados pelo ex-executivo foram objeto de auditoria conduzida por assessores
externos, a qual concluiu que o Sr. Nelson José de Mello autorizou, por
iniciativa própria, despesas sem as devidas comprovações das prestações de
serviços; (c) foi ressarcida pelos prejuízos sofridos; e (d) não se beneficiou
de quaisquer atos praticados isoladamente pelo ex-executivo.”
A reportagem não conseguiu contato com a Ycatu
Saneamento. O Prade & Prade Advogados não retornou aos contatos da
reportagem.
Com informações da Revista Exame.
Nenhum comentário:
Postar um comentário