Documentário
feito por Bernardo Arantes, Daniela Teles, Guilherme Gutierre, Jhony Skeika,
Valquíria Lopes e Taline Stadler, alunos do curso de História da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (2009). Orientação da Profa. Ms. Janaína de Paula
08 de Março — Dia Internacional da Mulher
Por Brasil Escola
Desde meados da década de 1960, convencionou-se
comemorar o Dia Internacional da Mulher em 08
de março. Essa data é tida como símbolo de uma série de reivindicações e
conquistas de direitos, sobretudo no âmbito trabalhista. Entretanto, a escolha
dessa data para tal comemoração frequentemente está associada a equívocos
ou a invenções históricas que precisam ser elucidadas.
Conta-se que, em 8 de março de 1857, 129 operárias
morreram carbonizadas em um incêndio que ocorrera nas
instalações de uma fábrica têxtil na cidade de Nova York. Esse incêndio teria,
supostamente, sido intencional. O proprietário da fábrica, como forma de
repressão extrema às greves e levantes das operárias, teria trancado suas
funcionárias na fábrica e nelas ateado fogo. Essa história, contudo, é
falsa e, obviamente, o 8 de março não está ligado a ela.
Entretanto, houve, sim, um incêndio em uma fábrica de
tecidos em Nova York, mas ele aconteceu no dia 25 de março de 1911, às
17h da tarde, na Triangle Shirtwaist Company,
e vitimou 146 pessoas, sendo 125 mulheres e 21 homens. A maior parte dos mortos
era constituída de judeus. As causas desse incêndio foram as péssimas
instalações elétricas da fábrica associadas à composição do solo e das
repartições da fábrica e, também, à grande quantidade de tecido presente no
recinto, o que serviu de acelerador para o fogo. A esse cenário trágico
somou-se o agravante de alguns proprietários de fábricas da época, incluindo o
da Triangle, usarem como forma de contenção de motins e greves o
artifício de trancar os funcionários na hora do expediente. No momento em que a Triangle pegou
fogo, as portas estavam trancadas.
Um ano antes dessa tragédia, em 1910, na cidade de
Copenhague, ocorreu o II Congresso Internacional de Mulheres
Socialistas, que foi apoiado pela Internacional Comunista. Nesse evento, a
então membro do Partido Comunista Alemão, Clara Zetkin,
propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher, sem, entretanto, estipular
uma data específica. Essa proposta era fruto tanto do feminismo, que ascendia
naquela época, quanto das correntes revolucionárias de Esquerda, como o
comunismo e o anarquismo – inclusive, a anarquista lituana Emma Goldmanfoi
um dos nomes mais importantes da época.
O incêndio de 1911 viria a ser sugerido, nos EUA, como
dia simbólico das mulheres (tal como sugerido por Clara Zetkin). A maioria dos
movimentos reivindicava melhorias nas condições de trabalho nas fábricas e, por
conseguinte, a concessão de direitos trabalhistas e eleitorais (entre outros)
para as mulheres. Vários protestos e greves já ocorriam na Europa e nos Estados
Unidos desde a segunda metade do século XIX. O movimento feminista e as demais
associações de mulheres capitalizaram essas manifestações, de modo a
enquadrá-las, por vezes, à agenda revolucionária. Foi o que aconteceu em 08 de
março de 1917, na Rússia.
Sabemos que a Revolução Russa ocorreu
em 1917, ou melhor, completou-se em outubro de 1917. Pois bem, no dia 08 de
março desse ano, as mulheres trabalhadoras do setor de tecelagem entraram em
greve e reivindicaram a ajuda dos operários do setor de metalurgia. Essa data
entrou para a história como um grande feito de mulheres operárias e também como
prenúncio da Revolução Bolchevique, como acentuou a pesquisadora Eva Alterman
Blay em seu artigo intitulado 8 de março: conquistas e
controvérsias:
“No século XX, as mulheres trabalhadoras
continuaram a se manifestar em várias partes do mundo: Nova Iorque, Berlim,
Viena (1911); São Petersburgo (1913). Causas e datas variavam. Em 1915,
Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Cristiana, perto de Oslo, contra a
guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma conferência sobre a mulher. Em 8
de março de 1917 (23 de fevereiro no Calendário Juliano), trabalhadoras russas
do setor de tecelagem entraram em greve e pediram apoio aos metalúrgicos. Para
Trotski esta teria sido uma greve espontânea, não organizada, e teria sido o primeiro momento da Revolução
de Outubro.” [1]
Após a Segunda Guerra Mundial,
o dia 08 de março (em virtude da greve das mulheres russas) começou a tornar-se
aos poucos o símbolo principal de homenagens às mulheres. Ao mês de março
também foi, a partir de então, associado o evento do incêndio em Nova York,
ocorrido no dia 25. A partir dos anos 1960, a data já estava praticamente
consolidada, como apontou Eva Blay:
“Na década de 60, o 8 de Março foi sendo
constantemente escolhido como o dia comemorativo da mulher e se consagrou nas
décadas seguintes. Certamente esta escolha não ocorreu em consequência do
incêndio na Triangle,
embora este fato tenha se somado à sucessão de enormes problemas das
trabalhadoras em seus locais de trabalho, na vida sindical e nas perseguições
decorrentes de justas reivindicações.” [2]
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