sábado, 20 de maio de 2017

Vídeo: Delator da Lava Jato, ligado à JBS afirma que pagou a Colombo R$ 10 milhões


O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e o secretário de Estado da Fazenda, Antonio Gavazzoni, foram citados em depoimento do diretor de Relações Institucionais e governo na holding J&F, que controla a JBS, Ricardo Saud. Nesta sexta (19), o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou o conteúdo das delações relacionadas ao grupo, incluindo as dos empresários Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, no âmbito da Operação Lava Jato.

Na gravação, feita no dia 5 de maio, o delator afirma que foram pagos R$ 10 milhões em propina para a campanha de Colombo nas eleições de 2014 (veja no vídeo acima). O objetivo, segundo Saud, era obter facilidades na licitação para comprar a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan).
m nota divulgada na tarde desta sexta, a assessoria do governador Raimundo Colombo afirmou que ele “contesta com veemência as declarações feitas pelo delator da JBS sobre doações relativas à campanha eleitoral de 2014”. O secretário da Fazenda, Antonio Gavazzoni, também em nota, declarou nunca ter tratado de assuntos da Casan com executivos da JBS (veja o posicionamento completo deles mais abaixo nesta.

 O que diz a delação

Na gravação, Saud conta que foi procurado por Antonio Gavazzoni. “O Raimundo Colombo tava disputando a reeleição ao governo de Santa Catarina pelo partido do Kassab [PSD]. O Kassab sempre pediu para a gente dar um apoio ao Raimundo Colombo (…). Mas nós procuramos o Raimundo Colombo direto. Eu fui procurado pelo secretário de Fazenda, o Gavazzoni, numa data oportuna, porque lá nós compramos a Seara. A empresa Seara tava para fechar, ia dispensar não sei quantos mil trabalhadores, ia ser o caos no estado de Santa Catarina. E, na época, o secretário da Fazenda, o Gavazzoni, nos fez um apelo, se podia comprar, o que que tinha condição de fazer ou não. O governador Raimundo Colombo conversou muito com Wesley também, pedindo para que isso acontecesse”, disse Saud.

Segundo o delator, a partir desse contato, começou uma “amizade”. “E por sorte, não foi por influência nenhuma deles, o Wesley acabou comprando a Seara. O grupo acabou comprando a Seara. Além de salvar a empresa, acabou gerando muito mais empregos do que era. E com isso. criou-se uma intimidade entre eu e o Gavazzoni. E ele falou: ‘a eleição tá vindo aí, nós temos eleição agora apertada. Vamos disputar com Paulo Bauer aí, não sabe se é o Dário Berger… Nós estamos precisando de recurso’. Eu falei: ‘Pô, mas vocês estão no poder. Vocês com a máquina na mão e ainda querem recurso, dinheiro, alguma coisa e tal?”, contou o delator.

Ele afirma que, mesmo assim, os empresários convidaram o governador para um jantar na casa do Joesley Batista, em São Paulo, em junho ou julho de 2013. “E aí foi o Raimundo Colombo, alguns assessores que eu não lembro o nome e o Gavazzoni. E lá, nessa época, nós não tínhamos nada que pedir a ele, mas por outro lado nós estávamos montando uma empresa, uma construtora, na verdade, mas que trabalharia mais com concessões”, afirmou.

“E nós estávamos muito interessados, nessa empresa, que nós fizéssemos concessões de água e esgoto nos estados. Então, lá no jantar, nós falamos: ‘ó, a gente pode dar uma colaboração aí, podemos ajudar, tal (…) Nós temos interesse em comprar a companhia de água e esgoto. Nós estamos querendo montar essa empresa exatamente para ver se nós conseguimos com essas doações uma facilidade na licitação, para ver se nós combinamos’. Acabei de falar isso, olhei pro Joesley, olhei para o governador, os dois balançaram a cabeça. (o procurador interrompe e pergunta se Gavazzoni estava presente). O secretário também, e vários outros assessores.

Segundo Saud, os dois assentiram. ‘Então faz o seguinte: do meu lado põe o Paulo Ricardo para tratar desse assunto’. E ele falou: ‘Então do meu lado vai o Gavazzoni para tratar do assunto’. E nós chegamos ao número para participar dessa licitação e ajudar a fazer o edital de licitação, a gente chegou no número de R$ 10 milhões”.

Ele contou que o dinheiro foi pago de duas formas. “Nós pagamos R$ 8 milhões dessa propina dissimulado em forma de pagamento do PSD nacional, carimbado para candidatura do Raimundo Colombo, e R$ 2 milhões foi pago em dinheiro vivo, lá em Florianópolis mesmo. Aí não posso afirmar se foi o Gavazzoni que buscou o dinheiro ou se foi o mensageiro dele, mas o dinheiro foi entregue no supermercado também, que nos ajudou, coitado, sem saber de nada pagando em espécie como se fosse para pagar uma nota fiscal nossa que tava vencendo, no valor de R$ 2 milhões”, disse ele ao procurador.

Na gravação, o procurador questiona quem foi receber o dinheiro no supermercado. “Eu afirmaria, talvez, que foi o Gavazzoni que pegou o dinheiro, mas eu não quero afirmar porque eu não quero… Eu acho que foi”, disse.

O delator afirmou que a negociação referente à Casan acabou não indo adiante por falta de interesse da parte dos empresários. “Porque nós não tivemos interesse, nós desmontamos essa empresa, nós não queremos mais confusão, não queria nada, nada, nós desmontamos a empresa, então não foi para frente”.

Versão de Colombo

Segundo Colombo, “a empresa, conforme a legislação eleitoral vigente, fez doações ao diretório nacional do PSD, que repassou para a campanha do partido em Santa Catarina”.

“A doação feita pela JBS foi dentro da legislação eleitoral de forma oficial na conta bancária do partido e está registrada na prestação de contas apresentada e aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral”, conclui a nota.

O governador também fez uma declaração. “Em relação às doações da campanha, elas foram feitas de forma transparente e legal. Foram depositadas na conta do diretório nacional do PSD, que repassou para o diretório estadual por conta bancária. Está registrado nas contas da campanha, foi entregue ao Tribunal Regional Eleitoral, é de conhecimento público, está lá para quem quiser conhecer. Nada além disto aconteceu. Posso garantir a cada um de vocês. Essa é a realidade. Era a legislação vigente, era a forma que se tinha para fazer campanha e nós cumprimos todos os ritos legais”, disse Colombo.

Versão de Gavazzoni

Gavazzoni afirmou em nota que a declaração do delator é falsa e surpreendente. O secretário afirmou que a ajuda oferecida no jantar em São Paulo foi oficial, como está registrado nas declarações eleitorais. Ele também negou qualquer conversa sobre a Casan e destacou que não houve edital nem venda de nenhuma ação da companhia.

O que diz o supermercado citado

Em nota, a rede de supermercados Angeloni, onde teria ocorrido o pagamento de parte da propina, conforme a delação, confirmou que houve um pagamento, mas informou que não tinha conhecimento do que se tratava.

Leia a íntegra da nota:

“Temos histórico de relacionamento de muitos anos com a JBS, que deve ser um dos maiores fornecedores da maioria das redes de supermercados. O pagamento pelos produtos adquiridos deste fornecedor é tradicionalmente feito através de depósito bancário, mas, num determinado momento, recebemos a solicitação da JBS para que algumas duplicatas fossem pagas em carteira. Foi então encaminhado o pedido ao Departamento Financeiro para que efetivasse os pagamentos da forma solicitada. Não houve qualquer participação direta por parte do presidente do Grupo, que apenas autorizou os pagamentos por acumular o cargo de diretor comercial da empresa. Todos os títulos, inclusive esses em carteira, encontram-se devidamente contabilizados, quitados e as tratativas entre as partes registradas em correspondências eletrônicas. Ficamos surpresos com as notícias veiculadas, pois, conforme afirmado por um dos delatores, jamais tivemos conhecimento do que se tratava. Estávamos considerando apenas a regularidade do procedimento comercial”.


Com informações do site G1 SC

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