Por Luis
Nassif
Peça 1 – algumas características relevantes do momento
Para analisar o momento atual e montar cenários
possíveis, é necessário assumir alguns pressupostos:
Ponto 1 – os desdobramentos políticos dependem de
um conjunto de circunstâncias.
Não imagine o golpe atual como uma ação
concatenada, com um comando central pensando em cada jogada e com controle
sobre todas as variáveis. Há as variáveis centrais, os fatos fora de controle,
e as saídas estratégicas secundárias.
Há um grupo hegemônico manipulando o golpe –
aliança mídia-grande capital -, e um conjunto de agentes secundários que se
movem de acordo com a formação das nuvens da opinião pública.
Ponto 2 – o ponto central do golpe é
impedir que as esquerdas retomem o poder em 2018.
Aí, abrem-se várias possibilidades: o surgimento de
um campeão branco, uma eventual candidatura competitiva; o impedimento legal de
Lula disputar; a implantação de um semiparlamentarismo; até um endurecimento do
golpe, se as circunstâncias permitirem.
Ponto 3 – candidato bom é
candidato viável
Se seu amigo está se afogando no mar, veja se ele
está ao alcance do arremesso de um salva-vidas. Se não estiver, se desculpe e
marque a missa de 7o Dia.
No jogo político atual, será preservado apenas o
político que for imprescindível para o segundo tempo do golpe, a se iniciar em
2018.
Peça 2 – a mídia e os tucanos jogados ao mar
Como sempre acontece, a velha mídia sempre pratica
movimentos sincronizados. Nos últimos tempos, com exceção do Estadão,
que parece editorialmente parece ligado no automático, os demais veículos
procuram investir um pouco na busca da isenção perdida.
Na 6a, o Jornal Nacional deu
uma edição surpreendentemente isenta sobre os escândalos de Temer. Agora, Veja solta
uma bomba contra Aécio Neves e um vazamento mortal contra José Serra – a
informação de que o executivo Pedro Novis informou ter depositado muito
dinheiro na conta de “uma parente” de Serra, através do lobista José Amaro
Pinto. A Folha, uma das que mais estimulou a intolerância dos
últimos anos, lança um manual se propondo a praticar um jornalismo propositivo,
que afaste o discurso de ódio.
O que está em jogo, inicialmente, é a tentativa de
recuperar credibilidade. Quando começou esse jornalismo de esgoto, não faltaram
alertas de que se tratava de uma tática suicida, da qual as principais vítimas
foram Veja e Folha – IstoÉ não
tinha muito a perder.
O momento de corte ocorre quando se esfumaça o
futuro político de Aécio Neves e José Serra e o de Geraldo Alckmin fica sob
dúvida. Tateia-se, agora, a candidatura de João Dória Júnior.
Para a mídia poder bancar o novo, precisaria
enterrar o velho, com quem tornou-se imprudentemente identificada. Por esta
lógica, Aécio e Serra já estão condenados. E Alckmin fica sob análise. Sua
condenação dependerá, em parte, das delações da Odebrecht e, em parte, do
crescimento ou não de Doria nas pesquisas.
É o que explica o fim da blindagem dos aliados.
Peça 3 – a inviabilidade do governo Temer
São muitos os indícios de que o governo Temer está
no fim. Além da ilegitimidade da falta de votos, assim como o governo Dilma,
foi vítima da falta se discernimento político de burocratas primários, que
julgam que toda radicalização é virtuosa: Joaquim Levy, com seu pacote fiscal,
Mansueto de Almeida, com essa extravagância de reforma do sistema e previdência
social que jogará o país de volta ao século 19.
Os índices recordes de impopularidade de Michel
Temer, a ameaça de debandada do PMDB, o aumento da popularidade de Lula e de
candidaturas alternativas, a ausência total de uma estratégia de recuperação da
economia, tudo indica que se esgotou o prazo de 6 meses no qual, de acordo com
a Teoria do Choque, todas as crueldades são permitidas.
Aliás, é inacreditável que a mediocridade de Temer
não tenha sido percebida nem por Lula, Dilma e o PT – que o fizeram
vice-presidente -, nem pelas forças que perpetraram o golpe parlamentar.
Trata-se de uma pessoa com baixíssimo nível de informação, falta de cultura
geral, de escrúpulos e de discernimento, com o carisma de coruja obrigada a
falar, uma espécie de rei dos mendigos intelectuais do Congresso.
A maior prova de sua mediocridade é a maneira como
embarcou no sofisma da impopularidade, peça pregada nele pelo impagável Nizan
Guanaes: a impopularidade é uma vantagem, pois não impede a pessoa de cometer
as piores maldades. E sai o gênio político estufando o peito e proclamando sua
impopularidade.
Peça 4 – os fatores aleatórios no
julgamento do TSE.
Na próxima semana, entra em pauta o julgamento da
chapa Dilma-Temer pelo TSE.
A nomeação do Ministro Admar Gonzaga não muda o
jogo: ele não participará da votação, ainda sob responsabilidade de Henrique
Neves.
Em relação à votação, há apenas uma certeza: o
parecer do relator será a favor do impeachment da chapa completa. A partir daí,
há as seguintes possibilidades.
1. Manutenção de Temer
Atuando como consultor de Michel Temer, Gilmar
Mendes adiantou duas possibilidades possíveis de sobrevivência: a separação da
chapa, condenando apenas Dilma; o impeachment da chapa, mantendo os direitos
políticos de Temer, que seria reconduzido à presidência por uma nova votação.
Há uma terceira manobra, de algum Ministro pedir
vistas do processo por prazo indeterminado. Gilmar Mendes é campeão dessas
manobras.
Há quem veja vantagens na manutenção de Temer. Com
ele, seria mais difícil postergar as eleições de 2018.
As desvantagens óbvias:
· o desmonte do
Estado, perpetrado por sua equipe, sem a menor estratégia de recuperação da
economia, aprofundando ainda mais a recessão,
· O assalto que está
sendo praticado em todos os níveis, de forma escandalosa.
2. Saída de Temer.
Nesse caso, haveria
uma nova eleição, pela Câmara dos Deputados. E aí há um conjunto enorme de
variáveis. Há o grupo que ainda segue Eduardo Cunha; o grupo do PSDB; a frente
das esquerdas.
O único ponto de
confluência desses grupos é o medo da Lava Jato – que, agora, entra na fase
STF. Nesse rumo, sobressaem duas candidaturas: a de Gilmar Neves e a de Nelson
Jobim.
Gilmar seria um
tapa na cara da opinião pública. Já Jobim, em que pese as enormes críticas que
suscita, tem pontos de contato com todas as pontas e salve exercer a autoridade
e o caminho das pedras.
Peça 5 – os cenários possíveis
Tudo ainda é confuso, inconcluso, dependendo da
evolução de uma série de fatores:
Crise econômica
Apesar do esforço descomunal da mídia, o quadro
econômico piora. Há uma inadimplência generalizada do setor privado, uma
interrupção de todo investimento público e, agora, o início da debandada dos
aliados de Temer. O aprofundamento da crise reduz as possibilidades de Temer e
fortalece a candidatura de Lula.
O fator Dória
É cedo para apostar as fichas em João Doria Junior.
Suas reações às críticas que tem recebido mostram um político não apenas
novato, mas tosco. Falta a ele visão prospectiva mínima. Ganhou um saldo em
caixa com suas manobras de marketing e a crise final das velhas lideranças. E
sai gastando o saldo explorando de forma repetitiva o marketing do João
Trabalhador e um discurso velho, da polarização PSDB-PT, marca mais anacrônica
de um modelo que se pretende extirpar. Até agora, Dória é conhecido apenas
pelas jogadas de marketing. A construção da imagem pública começa agora. E o
que tem revelado é o perfil do mimado agressivo. Uma eventual desintegração da
candidatura Dória poderá precipitar outras tentativas anticonstitucionais.
A Lava Jato
As sucessivas ações de Sérgio Moro e delegados da
PF contra blogueiros, sindicalistas e críticos das redes sociais, refletem
desequilíbrio decorrente da síndrome da perda de poder. Agora que retornaram ao
nível da terra, a perda do impacto de seus feitos torna-os mais sensíveis às
críticas. De truculência em truculência vão desconstruindo sua imagem e
revelando-se como efetivamente são: um grupo de funcionários públicos
provincianos jogados, de repente, no epicentro da política brasileira. Com
vento e mídia a favor, até o padre baloeiro de Florianópolis torna-se Santos
Dumont. Na hora da prova dos 9, soçobram.
De qualquer modo, a delação da Odebrecht
provavelmente criará uma dinâmica que arrastará o restante da atual geração
política para o buraco.
Some-se a delação do ex-governador do Rio, Sérgio
Cabral Filho, que poderá atingir até magistrados dos tribunais superiores - STF
e STJ.
A soma desses três fatores – Crise + Frustração com
Dória + Lista Odebrecht – cria um cenário absolutamente incerto para o golpe.
Uma das estratégias será ampliar as revelações da
lista sobre o PT e os governos Dilma e Lula. Mas já se tornaram carne de vaca.
Não haverá como jogar para segundo plano os novos denunciados.
Por outro lado, o discurso de demolição do Estado,
é de alcance bastante restrito. Especialmente depois que a proposta de reforma
da Previdência escancarou os efeitos sobre a população. Se passar o saco de
maldades de Mansueto, o tema imbatível da campanha de 2018 será o da reversão
do desmonte.
Em suma, a estratégia de desmonte do PT e vitória
em eleições diretas em 2018 torna-se a cada dia mais distante.
Pode-se esperar, para os próximos meses, que
Gilmar, Globo, e camarilha de Temer tirem algum novo coelho da cartola.
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