quarta-feira, 12 de abril de 2017

Leia todos os despachos de Edson Fachin para abertura de inquéritos contra Lula

  
Delações da Odebrecht incriminam lobby, diplomacia e influência de Lula

Do Jornal GGN

Das seis frentes de acusações que recaem sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cinco referem-se sobre o lobby político junto a relações diplomáticas, por governabilidade ou por supostos benefícios de terceiros. Apenas uma é acusação direta: a mesma do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo.

Dois inquéritos aceitos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, a partir das delações da Odebrecht, irão apurar se Lula atuou em favor da empreiteira para se destacar no mercado nacional e internacional. 

Uma referente a serviços em Angola, Lula teria conseguido a presença da empresa nacional no exterior. Em troca, as acusações impõe que Lula teria solicitado favorecimento a uma empresa de seu sobrinho Taiguara Rodrigues, a Exergia, entre os anos de 2011 e 2014, contratada para os serviços no país.

“Segundo o Ministério Público, os colaboradores relatam que o Grupo Odebrecht, entre os anos de 2011 a 2014, teria contratado a empresa Exergia, de propriedade Taiguara Rodrigues, objetivando prestação de serviços em Angola. Esclarecem, nesse contexto, que a referida contratação constituiria atendimento a pedido formulado pelo próprio ex-Presidente, acrescentando que a empresa Exergia não detinha experiência no ramo de construção e seria constituída por Taiguara Rodrigues tão somente para fazer uso da influência do ex-Presidente da República”, diz trecho do inquérito.

Outra, o ex-presidente teria intermediado a boa relação da Odebrecht junto ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Lula se comprometeu a melhorar as relações da empreiteira na gestão de Dilma, e em troca, a Odebrecht teria favorecido projetos de seu filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva. 

A delação é do patriarca da família, Emílio Alves Odebrecht, e do ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira, Alexandrino Alencar, que afirmaram: "o ex-presidente Lula teria se comprometido a melhorar a relação entre o Grupo Odebrecht e a então presidente Dilma, sendo que, em contrapartida, receberia o apoio da Odebrecht na atividade empresarial desenvolvida por seu filho Luís Cláudio".

Neste último caso, não há menção de nenhum repasse ao filho do ex-presidente. Aponta-se, apenas, uma suposta relação de influências, sem indicação de propinas. No despacho de Fachin, o ministro relata que os delatores disseram que se encontraram com Luís Cláudio para conhecer o projeto "Touchdwn", para a criação de uma liga de futebol americano no Brasil.

Um terceiro inquérito não há sequer a confirmação de que o ex-presidente teria atuado no caso. O ex-diretor de relações institucionais, Alexandrino Alencar, e o chefe do departamento de Operações Estruturadas, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, narraram que o irmão de Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como "Frei Chico", recebia da Odebrecht uma espécie de "mesada".

“Narram os executivos que os pagamentos eram efetuados em dinheiro e contavam com a ciência do ex-presidente, noticiando-se, ainda, que esse contexto pode ser enquadrado ‘na mesma relação espúria de troca de favores que se estabeleceu entre agentes públicos e empresários’”, é o que diz o documento.

Lula, como deixa claro Fachin, não teria tido atuação direta, apenas "sabia" dos supostos repasses.

Um quarto caso trata-se de uma relação diplomática do ex-presidente no Porto de Mariel, em Cuba. Tanto Lula, quanto o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, atuaram e intercederam para que fosse possível a contratação da empresa brasileira nas obras. A criminalização da atuação de Lula ocorre, ainda que de forma controversa, porque parte dos recursos - US$ 682 milhões dos US$ 957 milhões - partiu de financiamentos do BNDES.

Por fim, um quinto inquérito é sobre a suposta operação de caixa dois para a campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, em 2012. Ao contrário do que divulgou a maior parte dos jornais nestas terça e quarta-feiras, o despacho de Fachin não indica que Lula "pediu" os recursos. Novamente, é investigado porque negociou as doações da empreiteira. 

As delações são de Emílio e Marcelo Odebrecht. "Essas transações foram ajustadas entre executivos do Grupo Odebrecht, especialmente Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht e Alexandrino de Alencar, e o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e outros integrantes do PT".

Da mesma forma como ocorre em todas as articulações para doações a campanhas eleitorais, a Odebrecht auxiliaria nas eleições do PT, de olho na "aprovação de medidas legislativas favoráveis aos interesses da companhia" em São Paulo e na Concessão de Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento (CID), título relacionado a impostos municipais. Entretanto, a transação teria ocorrido com "recursos não contabilizados", segundo delatores.

O último inquérito, já de conhecimento público pelas ações de Sérgio Moro, da Vara Federal de Curitiba, é sobre o sítio de Atibaia. Marcelo e Emílio contaram que, com o intuito de agradar o ex-presidente, decidiram reformar o sítio no interior de São Paulo, realizar a compra de imóveis para uso pessoal e para a instalação do Instituto Lula, além de doações a palestras do ex-presidente.

Todos os inquéritos que mencionam Lula como investigado foram remetidos à Vara Federal de Curitiba, no Paraná, nas mãos do juiz Sérgio Moro. O pedido foi do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que sustenta a tese que todos os favorecimentos ao ex-presidente diretamente, a pedidos feitos por ele ou, inclusive, por apenas consentimentos de Lula, eram na verdade benefícios em troca do que o político fez pela Odebrecht.

Como é o juiz Sérgio Moro quem investiga essa tese, uma vez que o primeiro procurador a levantar a teoria foi Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, ainda no pedido de condução coercitiva, em março do último ano, todos os casos foram remetidos à Vara.

Em resposta, o ex-presidente ressalta que em todos os processos em tramitação já foram ouvidas 102  pessoas, incluindo os mesmos delatores, e testemunhas de acusação e de defesa. "Nenhum desses depoentes fez qualquer afirmação que pudesse envolver Lula em ato ilícito relativo à Petrobras ou às propriedades que lhe são indevidamente atribuídas, especialmente o apartamento do Guarujá e o sítio de Atibaia". 

"Só a permanente prática do lawfare explica esse novo episódio, após a superação de todas as anteriores suspeitas lançadas contra nosso cliente. (...) Lula já teve todos os seus sigilos quebrados, no Brasil e no exterior. E nenhum valor ilegal foi encontrado, porque ele não recebeu qualquer valor ilegal", completou, em resposta o advogado Cristiano Zanin Martins.


Assista ao posicionamento da defesa:


Leia, abaixo, todos os despachos de Edson Fachin para abertura de inquéritos contra Lula:

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