Programa da
CIA chamado “Weeping Angel” (Anjo Choroso) deu aos hackers da agência acesso às
TVs Samsung Smart
Por Sam Biddle, no site The Intercept-Brasil.
CIA
usa smart TVs como grampos
É difícil comprar uma TV nova que não venha com um
software “smart” (geralmente medíocre) oferecendo ao seu home theater as
funções normalmente encontradas em telefones e tablets. Mas trazer esses
recursos adicionais para sua sala significa trazer também um microfone — o que
está sendo explorado pela CIA, segundo novo conjunto de documentos publicados
hoje pela WikiLeaks.
De acordo com os documentos, o programa da CIA chamado
“Weeping Angel” (Anjo Choroso) deu aos hackers da agência acesso às TVs Samsung
Smart, permitindo que o microfone embutido do controle por voz fosse manipulado
remotamente enquanto a TV aparentemente permanecia desligada. O recurso é
conhecido como “Fake-Off mode” ou “Modo Desligado Falso”.
Embora a tela esteja desligada e os LEDs indicadores
desativados, o hardware interno da televisão continua a operar sem o
conhecimento do dono. O método, que foi desenvolvido em parceria com a
inteligência britânica, conta com a implantação de um malware em uma
determinada TV — não está claro se o ataque pode ser executado remotamente, mas
a documentação faz referência à infecção através de uma unidade USB
contaminada. Uma vez que o malware esteja dentro da TV, ele pode transmitir
dados de áudio gravados para terceiros (supostamente um servidor controlado
pela CIA) por meio da conexão de rede da TV.
A WikiLeaks disse que o arquivo inclui mais de 8 mil
documentos da CIA e foi obtido através de uma fonte, não identificada pela
organização, que estava preocupada com os “recursos de hackeamento da agência
terem excedido seus poderes mandatados” e que queria “iniciar um debate
público” sobre a proliferação de armas cibernéticas. A WikiLeaks acrescentou
que os documentos também demonstram um grande número de hackeamentos de
smartphones, incluindo os iPhones da Apple; uma biblioteca considerável de
ataques a computadores supostamente graves que não foram comunicados às
empresas do setor tecnológico, como Apple, Google e Microsoft; malwares de
grupos hackers e outros estados-nação, incluindo a Rússia, segundo a WikiLeaks,
que poderiam ser usados para ocultar o envolvimento da agência em ataques
cibernéticos; e o crescimento substancial de uma divisão de hackers dentro da
CIA, conhecida como Centro de Inteligência Cibernética, inserindo ainda mais a
agência no tipo de guerra cibernética tradicionalmente praticada pela agência
rival, a NSA.
A invasão de smart TVs é apenas o exemplo mais recente
de um problema de segurança oriundo da chamada “Internet das Coisas”, um
catálogo cada vez mais extenso de produtos que incluem (ou precisam) de uma
conexão de internet para usar funcionalidades “smart”. No ano passado, o jornal
britânico The Guardian revelou que o diretor de Inteligência Nacional dos EUA,
James Clapper, disse ao Senado que a invasão de dispositivos “smart” era uma
das prioridades de espiões americanos. “No futuro, os serviços de inteligência
deverão usar a [internet das coisas] para identificar, vigiar, monitorar,
localizar e recrutar informantes, ou ganhar acesso a redes e credenciais de
usuário.”
O pesquisador de segurança e criptografia Kenneth White
disse ao The Intercept que as smart TVs são “historicamente um alvo fácil” e
“uma bela plataforma para ser atacada”, já que TVs costumam estar em salas e
quartos”. White acrescentou que “a chance de a [CIA ter] comprometido apenas a
Samsung é zero. É muito fácil modificar outros sistemas operacionais”
encontrados em smart TVs vendidas por outros fabricantes.
O novo vazamento da WikiLeaks não contém informações
aparentes sobre quem foi atacado pelo Weeping Angel ou quando os ataques
ocorreram. Também não ficou claro quantos modelos de TV da Samsung estão
vulneráveis ao Weeping Angel — os documentos da CIA publicados pela WikiLeaks
mencionam apenas um modelo, o F8000 (ainda que seja um modelo muito popular e
com boas resenhas, descrito pelo site Engadget como “o melhor sistema de smart
TV que você vai encontrar por aí”). Depois de algumas dúvidas quanto ao
reconhecimento de voz das TVs Samsung terem se espalhado em 2015, a empresa
divulgou um documento com Perguntas Frequentes visando acalmar os clientes
apreensivos. Na pergunta “como sei se estou sendo ouvido?”, a Samsung garante a
usuários que “se o recurso de reconhecimento de voz da TV estiver ativado para
receber comandos, será exibido um ícone de microfone na tela”, mas, “se não
houver um ícone na tela, o recurso de voz está desativado”.
Essa afirmação sobre ícones exibidos na tela, é claro,
não serve de nada se a CIA tiver invadido a TV. O que a Samsung parece ter
tomado como certo foi que a empresa e seus clientes teriam controle absoluto
sobre a operação de seus televisores. Como comprova a exploração do “Modo
Desligado Falso”, as garantias da empresa de que os controles de reconhecimento
de voz da TV operariam de forma transparente não são reais quando espiões (e
outros hackers em potencial) estão envolvidos.
A Samsung não respondeu aos pedidos de comentário
imediatamente. Um porta-voz da CIA respondeu que “nós não comentamos a
autenticidade ou conteúdo de supostos documentos de inteligência.”
Postado no Blog de Altamiro Borges
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