Por José Carlos de Assis
Não gosto da expressão “coxinha”. Aliás, nunca entendi
direito o que significa. Se é uma metáfora mais ou menos literal da anatomia
humana, coxinha evoca algo bastante interessante, ou seja, as coxas bem
torneadas e expostas de uma jovem mulher. É um mistério porque, na política
brasileira recente, passou a significar pessoas, sobretudo jovens, que estavam
a favor do impeachment de Dilma. E ficar a favor do impeachment de Dilma
assumiu uma conotação pejorativa, curiosamente sem muita relação com a
política.
Uma das prioridades que temos hoje no Brasil é juntar
as pessoas honestas e de boa vontade num grande projeto de regeneração
nacional, expulsando do templo do Planalto os vendilhões que nele se
assentaram. Tenho certeza de que, curadas as feridas do embate do impeachment,
milhares, na verdade milhões de coxinhas tem o mesmo objetivo. É possível que
tenham errado na questão do impeachment, mas não sem razão. O tema estava
dominado pela mídia canalha e dificultava um julgamento criterioso, sobretudo
por jovens.
E não me venham dizer, inclusive meus camaradas de
esquerda, que não foram enganados, também eles, pela manipulação midiática. Nos
dois governos do PT fui, junto com o senador Requião e poucos outros, um
crítico implacável da política econômica, embora ressalvando a política social.
O problema é que, salvo circunstâncias episódicas como um surto de importação
de commodities pela China, nenhuma política social se sustenta por muito tempo
sem a âncora de uma política econômica progressista.
Temos sido tratados como escravos da banca durante
todos os governos, desde a ditadura. Nos governos do PT não foi diferente. E
não foi por isso que Dilma sofreu o impeachment. Foi por um motivo torpe, um
crime de responsabilidade inventado por seus detratores, a maioria corrupta na
relação com o poder, o que ela rejeitava. O povo, e nele os coxinhas, não
podiam escapar da manipulação de uma mídia uníssona que decidiu colocar Dilma
para fora na esperança de aumentar o controle da banca sobre a presidência.
Não superaremos a profunda crise em que nos encontramos
sem algum grau de unidade nacional. O primeiro passo é uma aproximação da esquerda
com os chamados coxinhas, expressando ambos uma completa e cabal rejeição da
corrupção, e uma rejeição não menos decidida do domínio quase absoluto que a
mídia controlada pela banca tenta estabelecer sobre todos nós. A busca de um
projeto nacional passa necessariamente pela unidade nacional de propósitos, não
necessariamente pela unidade de ideologias.
O fato é que, na diversidade do mundo, cada um tem sua
visão própria. A unidade deve ser estabelecida, sim, mas quanto ao objeto.
Nesse campo, não há diferença entre esquerda e o que chamam de coxinha, desde
que essa expressão não esconda uma visão egoísta e discriminatória da política.
Se esquerda for a busca da justiça social, sou esquerdista. Se coxinha for ser
contra a corrupção, pedindo uma administração pública honesta e competente,
incluo-me com muito grado entre os coxinhas. Precisamos de todos para derrubar
pacificamente o regime corrupto que está aí, totalmente a serviço da banca.
Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical
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