Por Bepe Damasco, em seu blog
O jornal O Globo expôs sua preocupação com a possível
queda de Temer pregando eleições indiretas e rejeitando a proposta de
antecipação da eleição presidencial. Para a família Marinho, ou
"famíglia" como a ela se refere o bravo Altamiro Borges, o apelo à
soberania popular como remédio para o caos causado pelo golpe não passa de um
"jeitinho" que deve ser evitado a todo custo.
Até aí nada demais. É a Globo sendo Globo como sempre
foi. Mas a retórica antidemocrática dos Marinho remete à frase antológica do
saudoso Leonel Brizola: "Se a Globo estiver contra, sou a favor. Se a
Globo for a favor, sou contra." Para os democratas e progressistas, está
aí um parâmetro simples, prático e arrasadoramente infalível.
Digo isso para me posicionar no debate da esquerda
sobre a conveniência e a viabilidade de uma campanha por eleições diretas
diante da destruição do Brasil pelo consórcio golpista. A bandeira política das
diretas, além de agregadora, de fácil assimilação pelas massas e impregnada de
história, é um elemento importante para acuar o máximo possível o governo
usurpador, além de propiciar a retomada da iniciativa política por parte dos
defensores da democracia.
Combinada com as mobilizações contra a retirada
acelerada de direitos sociais e o desmonte civilizatório em curso, a campanha
tem potencial inclusive para despertar a classe trabalhadora, até agora mera
expectadora, embora principal vítima, da tragédia política, econômica e social
que se abate sobre o país.
Claro que os senões, ressalvas, riscos e preocupações
estão presentes na estratégia de investir nessa campanha. Primeiro porque não é
possível comparar a conjuntura de hoje com a de 32 anos atrás, quando campanha
das diretas já empolgou o povo, assegurando um lugar de destaque na história
das lutas democráticas brasileiras. Naquela ocasião, uma ditadura isolada e
decadente apostava suas últimas fichas para continuar no poder. Acabou
derrotando a emenda Dante de Oliveira, na Câmara dos Deputados. Mas a
"vitória de Pirro" foi o último prego no caixão da ditadura.
Hoje, o Congresso Nacional é um obstáculo bem maior às
causas democráticas e populares do que fora o de 1984, devido à sua composição
desqualificada politicamente como nunca e corrupta até a raiz dos cabelos.
Difícil imaginar que uma emenda propondo eleições diretas possa ser aprovada
por suas excelências.
Mas há uma briga de foice no escuro entre os sócios do
golpe. Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal
e grupos de mídia se engalfinham, enquanto o governo derrete a olhos vistos.
Essas rachaduras abalam seriamente a estrutura golpista. Fazê-la ruir de vez é
um dos desafios da campanha pelas diretas já versão 2016.
Um dos pontos polêmicos dessa discussão se refere à
devolução do mandato a quem de direito: a presidenta Dilma. Valorosos lutadores
defendem essa posição. Sem dúvida é a opção mais correta do ponto de vista
republicano e democrático. Sem falar que redimiria a presidenta, vítima de uma
brutal e infame injustiça.
O problema é que, tomando a realidade como a medida de
todas as coisas, essa proposta carece de viabilidade, pois setores da sociedade
mobilizáveis para uma campanha por diretas não estariam dispostos a se mexer
pela volta de Dilma. E mais: as instituições do Estado estão tão esgarçadas e
apodrecidas que só podem começar a ser regatadas pelo voto popular. Apenas a
legitimidade do voto pode retirar dos escombros uma democracia moribunda e uma
economia em frangalhos.
Outro argumento contrário à antecipação da eleição,
segundo o qual devemos esperar Temer e aliados conservadores caírem ainda mais
de podre até 2018, pois assim estaria pavimentado o caminho para a vitória
eleitoral da esquerda e das forças democráticas, traz embutido uma armadilha:
ao abdicarmos de uma bandeira capaz de ampliar e aprofundar a resistência a
Temer, o deixaremos mais à vontade para seguir na sua toada de entregar as
riquezas nacionais, tirar os pobres do orçamento com a liquidação dos direitos
sociais e transformar esse outrora promissor país em um paraíso de agiotas e
rentistas.
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