A
operação Celeró-mídia marca o fim do período de graça do governo Temer e a
reposição de FHC no jogo político.
Introdução – características das grandes
conspirações
Conspirações políticas não se montam com o controle
completo e acabado de todas as variáveis, obedecendo a um manual previamente
definido.
Quando atua sobre realidades complexas, como o cenário
sócio-político-econômico de um país, não há controle sobre todas as variáveis
nem clareza sobre os desdobramentos dos grandes lances.
Jogam-se os dados, então, em cima das circunstâncias do
momento, tendo apenas uma expectativa sobre seus desdobramentos.
Digo isso, para tentar avançar um pouco no Xadrez de
Marcelo Caleró, o ex-Ministro da Cultura que denunciou Michel Temer de
pressioná-lo em favor de benefícios pessoais a Geddel Viria Lima..
Peça 1 – jabuti não sobe em árvore
Em 2010 Caleró foi candidato a deputado federal pelo
PSDB do Rio. Aluno de Direito da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
sempre chamou a atenção pela extravagância, mas jamais pela vocação do suicídio
político. Fazia parte do time de yuppies que ascendeu na gestão Eduardo Paes.
Reagiu contra as jogadas de Geddel Vieira Lima e,
provavelmente, se assustou quando este passou a jogar balões de ensaio para
setoristas palacianos. Em tempos de grampo e de prisões indiscriminadas, jacaré
nada de costas. E aí resolveu pedir demissão e denunciar as pressões.
Até aí, se tinha um Ministro neófito resistindo às
investidas de boca de jacaré e gerando uma crise política restrita. Mas o
inacreditável amadorismo político de Michel Temer transformou em início de
incêndio, ao não tomar a decisão óbvia e imediata de demitir Geddel.
Aí ocorre o lance seguinte, a denúncia contra o próprio
Temer na Polícia Federal, com o depoimento vazando para a empresa mal chegou no
STF (Supremo Tribunal Federal). Imaginar espontaneidade em lance dessa
amplitude é tão improvável quanto acreditar que jabuti sobe em árvore.
O desafio é saber quem pendurou o jabuti na árvore.
Peça 2 – o lance do partido da mídia
A melhor maneira de garimpar os antecedentes é através
de um balanço rápido da repercussão:
· O Jornal Nacional
investiu contra Michel Temer com a mesma gana com que atacava Lula.
· Época, o braço mais
manipulável das Organizações Globo, depois da Globonews, registrou Caleró na
capa, o sir Galahad do novo, em contraposição ao velho Geddel Vieira Lima.
Folha e Estadão vão a reboque. E todos trataram de
poupar Eliseu Padilha, principal avalista do pacote de apoio à mídia.
No mesmo dia, em que o escândalo Geddel expunha o vácuo
Temer, FHC aparecia nos jornais online – e no Jornal Nacional – falando do
orgulho de ser PSDB, o PSDB representando o novo etc. E, como bom malaco,
afiançando, com ar confidente, que a presidência seria de alguma das lideranças
presentes. Mas não dele, é claro.
É difícil uma conspiração discreta com FHC porque ele
não consegue conter a euforia nos momentos que antecedem o desfecho.
A delação de Caleró serve, portanto, para dois
objetivos:
Objetivo 1 –
enfraquecer substancialmente a camarilha de Temer.
Objetivo 2 –
recolocar FHC no centro das articulações, como a alternativa para a travessia
até 2018.
As circunstâncias ditarão os próximos lances, que
poderá ser um Temer sem camarilha, sendo tutelado pelo FHC; ou um FHC assumindo
a presidência para tocar o barco até 2018, tendo dois trabalhos a entregar:
1. Completar o desmonte da
Constituição de 1988, conquistando o limite de despesas e a reforma trabalhista
e da Previdência.
2. Implantar o parlamentarismo,
ou outras alternativas de esvaziamento do poder Executivo e de poder do voto
popular.
Peça 3 – uma explicação para a capa de Veja
Há dúvidas de monta sobre a capa de Veja, com a chamada
superior informando sobre as acusações contra José Serra e Geraldo Alckmin nas
delações da Odebrecht.
Três hipóteses foram aventadas:
1. Veja começou
a fazer jornalismo.
Não bate com a insuficiência de dados da reportagem. A
rigor, há uma única informação, sobre a maneira como a Odebrecht repassava o
dinheiro do caixa 2 para Serra através do banqueiro Ronaldo César Coelho.
2. Dar um chega-prá-lá nos três
presidenciáveis atuais do PSDB,.
Para deixar claro que o momento não é de disputa, mas
de coesão em torno de FHC.
3. Arrumar um álibi para os
três.
É uma teoria um pouco mais complexa, mas que faz
sentido.
Sabia-se que haveria dois tipos de delação das
empreiteiras. A Odebrecht se concentraria nos financiamentos de campanha; a OAS
nos casos de corrupção para enriquecimento pessoal.
Aì houve a intervenção preciosa do Procurador Geral da
República Rodrigo Janot, cancelando as negociações com a OAS e provocando um
enorme alívio nos advogados de Serra.
Com exceção de Geraldo Alckmin, há indícios robustos de
que houve enriquecimento pessoal tanto de Serra quanto Aécio. Focando-se nos
pecados menores, confere-se um álibi de isenção à Lava Jato e à mídia e, ao
mesmo tempo, desvia-se o foco das investigações dos crimes mais graves.
Peça 4 – o enfrentamento da crise e o fator
FHC
O quadro que se apresenta, hoje em dia, é ameaçador.
Na base, o agravamento da crise econômica, expandindo-se
por estados e municípios. Os cortes nas políticas sociais, criando situação de
fome para parcela expressiva dos beneficiários do Bolsa Família. Um
endividamento circular das empresas, travando os negócios. E os grandes
investimentos públicos paralisados.
Em cima desse quadro, um conjunto de medidas
pró-cíclicas, agravando a crise econômica.
a. O arrocho fiscal,
aprofundando a recessão e ampliando o déficit fiscal pela redução da receita.
b. A política monetária com
taxa básica a 14%, inviabilizando qualquer possibilidade de novos
investimentos.
c. A política cambial
provocando a apreciação do real e abortando a recuperação das exportações.
d. O trancamento do crédito nos
bancos comerciais. Não há crédito mais e trabalha-se com extrema cautela a
rolagem das dívidas das empresas inadimplentes.
e. A retirada de R$ 100 bilhões
do BNDES, em um momento em que o endividamento circular das empresas paralisa a
economia.
Em um ponto qualquer do futuro, haverá a necessidade de
uma mudança de 180o na política econômica, com um choque fiscal
– ampliando despesas e investimentos públicos -, flexibilização das políticas
monetária e creditícia.
Um trabalho de recuperação da economia exigiria um
conjunto de qualidades que falta a FHC:
1. A proatividade para conduzir
os diversos instrumentos de recuperação da economia.
Nos seus 8 anos jamais se envolveu no dia-a-dia da
gestão política e econômica.
2. Habilidade política para
recompor a base de apoio.
Em seu tempo de presidência, o varejo da política era
garantido justamente pelo quarteto que compõem a camarilha de Temer: Geddel,
Padilha, Moreira Franco e o próprio Temer. No Congresso, o PSDB atual regurgita
ódio e, no campo das ideias, é um mero cavalo das ideias mercadistas.
3. Credibilidade para conduzir
um pacto nacional.
Em todo o período de conspiração, FHC sempre estimulou
a radicalização e o golpe. Jamais conseguiu entender que o único papel
engrandecedor que lhe caberia seria o de um futuro mediador, no caso de
recrudescimento da crise política. Pensa pequeno.
Peça 5 – o jogo de forças pós-Temer
Leve-se em conta que a fritura de Temer promoverá um
racha na frente golpista.
A frente é composta pelo PMDB de Temer, PMDB dos
caciques nordestinos, PSDB, centrão, PGR- Lava Jato e mídia.
A implosão do governo Temer significará restringir o
grupo vitorioso e enfrentar, no Congresso, a reação do PMDB e do chamado
centrão, além da oposição da esquerda.
Os 200 e tantos nomes da delação da Odebrecht não
reporão de forma alguma a isonomia nas investigações da Lava Jato, pelo fato de
incluir políticos tucanos nas delações. Pois a escolha dos investigados caberá
exclusivamente a Janot.
O movimento de fritura de Temer acirrará mais as
contradições do golpe, até que o aprofundamento da crise promova ou a
conciliação ou o caos.
E aí será possível um pacto entre FHC e Lula.
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