quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Padrão, por Fernando Pessoa

Caetano Veloso
PADRÃO
poema de Fernando Pessoa e música de André Luiz Oliveira
gravação de 1986
vídeo: Luciano Hortêncio

Por Gilberto Cruvinel


O esforço é grande e o homem é pequeno.

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para diante naveguei.



A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus.



E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.



E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma

E faz a febre em mim de navegar

Só encontrará de Deus na eterna calma

O porto sempre por achar.



13-9-1918

Fontes: GGN
1.   Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972).   - 60.
3.  Canal de Luciano Hortêncio

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