sábado, 15 de agosto de 2015

Impeachment? A História não se repete: é palhaço quem quer


Estão marcados para o dia 15 deste mês de março, em todo o Brasil, manifestações contra o governo Dilma Rousseff, incluindo o pedido do seu “impeachment”.

Os pais dos jovens que protagonizarão nas ruas tal evento, sem dúvida vivenciaram, há 23 anos, os movimentos populares dos “caras pintadas”, que solicitaram a saída da Presidência da República de Fernando Collor de Mello.

Aqueles hoje cidadãos de meia idade, com certeza vão querer reviver, através dos seus rebentos, a alegria romântica de ajudarem a tirar do poder um(a) governante “corrupto(a)” e “inapto(a)” para comandar os destinos da nação brasileira.

Acontece que não dá para comparar dois momentos históricos. A única coisa que une as duas épocas é o espírito rebelde e aventureiro da juventude, seu arrojo e seu arroubo; seu ímpeto na direção do novo, enfim, sua vontade visceral e, às vezes, precipitada e suicida de traçar o futuro.

Para derrubar o ex-presidente Fernando Collor, embora a causa fosse justa, foi crucial a participação da grande imprensa, arrependida (ou envergonhada?) por o ter apoiado; além de o grosso dos manifestantes pertencerem aos extratos sociais mais altos.
O carro-chefe dos protestos foi a indignação pelo comportamento, no poder, de um jovem que se apresentara na campanha eleitoral de 1989 como um “redentor” após 25 anos sem os brasileiros terem o direito de eleger, pelo voto direto, seu presidente da República.

2015
Agora, em 2015, o quadro é, essencialmente, outro. A juventude brasileira cresceu e teve sua mente formada nos conceitos da corrupção e da violência banalizados, das ideologias falidas, da falta de perspectivas, da inexistência daquele sonho de um mundo melhor e mais justo que os moços dos anos 50, 60 e 70 acalentaram.
Quando faltam horizontes, se escolhe um “judas” para malhar e descarregar desilusões. Paradoxalmente e antagonicamente a todos os preceitos de justiça social num país que nasceu e cresceu sob o fel das desigualdades extremas, recai justamente num agente político que representa mais lidimamente os mais carentes, um turbilhão de mágoas, represadas pelo tempo, por tudo de ruim que vem acontecendo no país. É Dilma Rousseff, pois, o judas a ser malhado; boi-de-piranha, a bucha de canhão dos insensatos.

Collor e Dilma 
A grande diferença entre as eras Collor e Dilma reside na estrutura ideológica dos mesmos, além do tempo maior que o Partido dos Trabalhadores teve para sedimentar nas populações mais desprotegidas suas políticas de inclusão social.

Collor governou durante três anos incompletos e, certamente, sua administração, se mais prolongada, não seria direcionada prioritariamente aos despossuídos. Collor não tinha movimentos sociais o defendendo nas ruas, como terá Dilma.

A tentativa dos grandes agrupamentos econômicos de fazer a atual presidente cair será infrutífera na proporção em que se mostrará pouco inteligente (quando os governos do PT ameaçaram os poderosos?)
Haverá ação e reação, bateu, levou; infelizmente, é assim que funciona na história dos povos.

Quando Collor foi cassado, havia uma chama de esperança de algo melhor no fim do túnel da política nacional: existia a “luzinha” da esquerda que Collor derrotou, materializada principalmente no PT, no PSDB (sim, tucanos e petistas estiveram juntos no segundo turno da eleição de 1989) e no PMDB.

Neste momento, não há opção melhor à vista. Só resta o realismo, o enfrentamento da verdade, sem subterfúgios. Cabe aos jovens que irão às ruas, pelo menos, o equilíbrio para se recusarem a ser, de fato, palhaços. 

Que sejam rebeldes sem causa, mas sérios. Não precisam pintar os rostos, nem colocarem artefatos circenses. Os tempos mudaram: os Caras Pintadas sobrevivem apenas no passado. A História não se repete. Protestem com firmeza, todavia saibam que não é execrando Dilma que estarão fundando um novo Brasil.

Créditos: Pragmatismo político

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