Depois de quase 50 anos
defendendo a existência de uma nova partícula subatômica, apelidada de "a
partícula de Deus" -- já que teria dado origem à massa de todas as outras
partículas --, o cientista britânico Peter Higgs, pai desta teoria, disse nesta
sexta-feira (6) que "é bom ter razão de vez em quando".
Na
última quarta-feira (4), cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear
(Cern, na sigla em francês) anunciaram a
observação de uma partícula subatômica inédita até então. Eles
veem fortes indícios de que se trate do “bóson de Higgs”, única partícula
prevista pela teoria vigente da física que ainda não tinha sido detectada em
laboratórios, e que vinha sendo perseguida ao longo das últimas décadas.
Pela
teoria, o bóson de Higgs teria dado origem à massa de todas as outras
partículas. Se sua existência for confirmada, portanto, é um passo importante
da ciência na compreensão da origem do Universo. Se ele não existisse, a teoria
vigente deixaria de fazer sentido, e seria preciso elaborar novos modelos para
substituí-la.
"É
muito agradável ter razão de vez em quando (...) foi uma longa espera",
admitiu o físico durante a coletiva.
E
o Nobel vai para...?
Higgs
concedeu uma coletiva de imprensa na Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Conhecido por sua modéstia, o professor aposentado de 83 anos deu pouca
importância aos comentários de cientistas famosos de que seria o favorito para
vencer o Prêmio Nobel. "Não sei, não tenho amigos no Comitê Nobel",
comentou.
Indagado
sobre o que vai fazer no futuro, Higgs disse que quer simplesmente continuar
com sua vida de aposentado. "O único problema, creio, é que terei de
escapar da imprensa", brincou.
Em
1964, Peter Higgs postulou a existência de uma partícula subatômica, que os
físicos do Cern afirmam ter, talvez, encontrado depois de uma longa busca.
Quando
teve a intuição de um "campo" que se assemelha a uma espécie de cola,
onde as partículas ficariam mais ou menos presas, Higgs disse ao antigo colega
Alan Walker: "Ah, que m...., eu sei como fazer!"
O
físico publicou um artigo sobre sua teoria, que acabou se tornando o
carro-chefe de uma escola científica para a qual vários físicos têm contribuído
ao longo dos anos. Tímido e sossegado, Higgs leva uma vida pacata em Edimburgo,
onde deu aulas por muitos anos.
'Partícula
de Deus'
O
“bóson de Higgs” ganhou o apelido de “partícula de Deus” em 1993, depois que o
físico Leon Lederman, ganhador do Nobel de 1988, publicou o livro “The God
Particle” (literalmente “a partícula de Deus”, em inglês), voltado a explicar
toda a teoria em volta do bóson de Higgs para o público leigo. Ainda não há
edição desse livro em português.
A
nova partícula tem características “consistentes” com o bóson de Higgs, mas os
físicos ainda não afirmam com certeza que se trate da “partícula de Deus”. Para
isso, eles vão coletar novos dados para observar se a partícula se comporta com
as características esperadas do bóson de Higgs.
As
conclusões foram baseadas em dados obtidos no Grande Colisor de Hádrons (LHC,
na sigla em inglês), acelerador de partículas construído pelo Cern ao longo de
27 quilômetros debaixo da terra, na fronteira entre a França e a Suíça.
Essa
máquina, considerada a mais poderosa do mundo, foi construída especificamente
para estudos de física de partículas, e a descoberta desta quarta é a mais
importante que já foi feita lá até o momento.
Mas,
e agora?
A
descoberta foi confirmada por especialistas do CMS e do Atlas, dois grupos de
pesquisa independentes que fazem uso do LHC. Apesar de usarem o mesmo
acelerador de partículas, as duas colaborações científicas trabalham com
detectores diferentes e seus resultados são paralelos. Os resultados
antecipados ainda serão publicados em revistas científicas.
Os
cientistas medem a massa das partículas como se fosse energia. Isso porque toda
massa tem uma equivalência em energia. Se você calcula uma, tem o valor das
duas. A unidade de medida usada é o gigaelétron-volt, ou "GeV".
No
anúncio, o CMS disse que observou um “novo bóson com a massa de 125,3 GeV” –
com margem de erro de 0,6 GeV para mais ou para menos – “em 4,9 sigmas de
significância”. Esses “sigmas” medem a probabilidade dos resultados obtidos. O
valor de 4,9 sigmas representa uma chance menor que um em 1 milhão de que os
resultados sejam mera coincidência. Por isso, os cientistas consideram esse
número como uma confirmação da descoberta.
O próximo passo dos cientistas é
testar os vários decaimentos decorrentes dessa partícula. Se os resultados
continuarem sendo coerentes com o Modelo Padrão, será confirmado que ela é
mesmo o bóson de Higgs.
*Com informações da France
Presse
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