Estabelecimentos de
ensino se desdobram para conquistar novos alunos e manter aqueles que já estão
matriculados
Por João Gabriel Amador – Portal
Metrópoles
A entrada e a permanência de estudantes em faculdades
particulares do Distrito Federal têm sido ameaçadas pela crise econômica, pelo
desemprego e reajuste nas mensalidades. Dados do Ministério da Educação dão
notícia de 186.175 brasilienses cursando o ensino superior – 80,5% (ou 149.970)
em instituições privadas de ensino. Mas manter esse número tem sido tarefa
árdua para os administradores das faculdades.
O cenário de instabilidade econômica tem se refletido
impiedosamente nos bancos da graduação. Para começar, o Fundo
de Investimento Estudantil (Fies), um dos grandes responsáveis pelo aumento
verificado nos últimos anos no total de alunos dos cursos superiores particulares,
teve seus contratos reduzidos. Entre 2014 e 2016, os beneficiados passaram de
730 mil para 200 mil.
Simultaneamente à queda dos investimentos do governo
federal no Fies, cresceu a inadimplência do setor. Ao longo de 2016, em todo o
país, 9% das mensalidades foram pagas com atraso superior a 90 dias. Esse é o
maior índice desde 2010, quando a inadimplência atingiu 9,6%. Os dados foram
divulgados na quinta-feira (22/6) pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino
Superior (Semesp).
Não bastasse essa realidade, o valor das mensalidades
não para de aumentar. Cursos concorridos, como medicina, chegam a custar mais
de R$ 6 mil na capital do país. Os reajustes, por sua vez, ficam acima da
inflação. Há casos de aumentos superiores a 15% no último ano, mas o acumulado
da inflação nacional nos 12 meses de 2016 foi de 6,29%, segundo o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A situação tem gerado debate entre alunos e
instituições de ensino. “Estamos em negociação com a direção da universidade.
Acreditamos que é injusto interromper sonhos por problemas financeiros. Por
isso, pedimos a revisão de reajustes e a ampliação de programas de bolsas
estudantis”, explica o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do
UniCeub, Rafael Calixto.
As instituições, por sua vez, argumentam que os
aumentos de mensalidades se dão pelos altos custos de investimento e o
crescimento da inadimplência nos últimos anos. “O reajuste é necessário em
razão de investimentos no processo didático-pedagógico e nas melhorias das
instalações físicas que visam a excelência no ensino”, afirmou, em nota, a
Universidade Católica de Brasília (UCB). O mesmo texto detalha que os preços
dos cursos ficaram, em média, 9,46% mais caros. “Esse cálculo teve como base a
análise da evolução do IPCA e do IGPM”, acrescentou a UCB.
O UniCeub disse possuir políticas específicas para
quitação de faturas em aberto e aceitar pagamentos em cheque e cartão. Há ainda
a possibilidade de divisão em parcelas. “Nos anos de 2016 e 2017, o
índice de inadimplência foi em torno de 2%. Para os meses de junho e
julho, aumentam as demandas de negociações, uma vez que, para a renovação da
matrícula ao semestre subsequente (2/2017), é necessário que as faturas
estejam pagas”, destacou a assessoria do UniCeub.
Dificuldade financeira
No DF, há cerca de 336 mil desempregados. Eles representam 20,5% do universo de 1,3 milhão de trabalhadores, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgados em maio. Isso representa um número menor de adultos capazes de financiar os estudos.
No DF, há cerca de 336 mil desempregados. Eles representam 20,5% do universo de 1,3 milhão de trabalhadores, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgados em maio. Isso representa um número menor de adultos capazes de financiar os estudos.
Já outro levantamento, realizado pela
Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), aponta que
sete em cada 10 estudantes gostariam de ter ingressado na graduação logo após
concluir o ensino médio. No entanto, 76% deles adiaram a entrada na faculdade:
62% por não terem condições de pagar e 14% por não obterem bolsa ou
financiamento estudantil. Foram entrevistadas 1,2 mil pessoas – entre pais e
estudantes do ensino médio e jovens já formados nesta etapa educacional.
Segundo a pesquisa, 52% dos já formados e que sonhavam
fazer graduação desistiram do diploma superior. Para 70%, o motivo da
desistência foi a falta de recursos para arcar com as mensalidades; 23% por não
terem passado na peneira das universidades públicas (e gratuitas) e 21% porque
começaram a trabalhar.
Sobraram vagas
Mudanças nos critérios do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) levaram a uma curiosa situação neste primeiro semestre de 2017. Sobraram vagas: das 150 mil oferecidas, foram preenchidas 115.445 (76,6% do total).
Mudanças nos critérios do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) levaram a uma curiosa situação neste primeiro semestre de 2017. Sobraram vagas: das 150 mil oferecidas, foram preenchidas 115.445 (76,6% do total).
Desde o final de 2014, explicam especialistas, o Fies
começou a ter uma série de restrições. Passou a exigir o mínimo de 450 pontos
no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e renda mínima de três salários
mínimos por pessoa, o equivalente, em valores atuais, a R$ 2.811. Os juros
aumentaram e a porcentagem de financiamento ao estudante passou a ser calculada
de acordo com a renda, não chegando mais a 100%.
Quando o aluno tem a pontuação, não tem a
renda; e quando tem a renda, não alcança a pontuação"
Solón Caldas, presidente da Abmes
Alternativas
Para driblar as dificuldades e atrair novos estudantes, as faculdades apostam em estratégias como bolsas, financiamentos e até descontos para quem paga a mensalidade em dia. Confira alguns programas para facilitar o ingresso – e a permanência – no ensino superior:
Para driblar as dificuldades e atrair novos estudantes, as faculdades apostam em estratégias como bolsas, financiamentos e até descontos para quem paga a mensalidade em dia. Confira alguns programas para facilitar o ingresso – e a permanência – no ensino superior:
Bolsas: Muitas
instituições oferecem bolsas de estudo, inclusive integrais. Um dos critérios
mais usados é a pontuação no vestibular ou no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem). Vale a pena entrar em contato com as instituições para saber se há essa
possibilidade.
Outra opção é o ProUni, programa do governo federal
que oferece bolsas integrais ou de 50% do valor da mensalidade. Para se
cadastrar é preciso ter cursado o ensino médio em escola pública e alcançado
450 pontos na prova do Enem. As inscrições para a edição deste ano estão
encerradas.
Financiamentos: O
mais conhecido é o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), promovido pelo
governo federal. O programa prevê o financiamento em uma quantidade de parcelas
equivalente a três vezes a duração do curso. Além disso, o estudante só começa
a pagar 18 meses depois de ingressar na faculdade. Mas há algumas restrições
para a aprovação do crédito, como exigência de renda mínima e exclusividade de
cursos nas áreas de saúde, engenharia e licenciatura.
Outro problema ocorrido no ano passado foi o atraso em
repasses do governo para instituições de ensino, que abalou a confiança no
programa. Por isso, algumas faculdades têm oferecido financiamentos privados,
em parceria com bancos.
Descontos: Para
fidelizar os estudantes, muitas instituições de ensino oferecem descontos para
quem paga as mensalidades em dia. O abatimento varia, mas pode gerar economia
de quase R$ 1 mil em cursos mais caros.
EaD: Uma opção para quem
quer conciliar estudos com trabalho é o ensino a distância. Além da
flexibilidade no tempo de estudo, os cursos digitais costumam ser mais em conta
que os presenciais.
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