"Os 83
inquéritos misturam de tudo, de problemas formais de prestação de contas a
suspeitas de manipulação de licitações. Independentemente da maior ou menor
gravidade das acusações, todos passam à condição de suspeitos e/ou corruptos.
Trata-se de uma tática tranquila, que criminaliza as pequenas infrações e dilui
as grandes acusações."
Por Luis
Nassif
Peça 1 – o vazamento da lista da
Janot
A divulgação da lista de inquéritos autorizados
pelo Ministro Luiz Fachin não significa que, enfim, a Lava Jato resolveu tratar
as investigações com isonomia, que o pau que dá em Chico dá em Francisco.
O Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot
continua dono absoluto do calendário. Através do controle do ritmo das
investigações, ele decide monocraticamente quem vai e quem não vai ser
condenado.
Durante três anos, toda a carga foi em cima do PT
e, especialmente, de Lula. Em três anos de investigações, há cinco ações em
andamento contra Lula, uma perseguição impiedosa que culminou com o vazamento,
ontem, da suposta delação de Marcelo Odebrecht, sob as barbas do juiz Sérgio
Moro e ele alegando a impossibilidade de identificar o vazador. Some-se a informação
do procurador Deltan Dallagnol de que o único vazamento efetivo de informações
foi para o blogueiro Eduardo Guimarães. O que significa que todas os demais
vazamentos ocorreram sob controle estrito da Lava Jato.
Os 83 inquéritos misturam de tudo, de problemas
formais de prestação de contas a suspeitas de manipulação de licitações.
Independentemente da maior ou menor gravidade das acusações, todos passam à
condição de suspeitos e/ou corruptos. Trata-se de uma tática tranquila, que
criminaliza as pequenas infrações e dilui as grandes acusações.
Peça 2 – as circunstâncias em jogo
A caçada a Lula tem três pontos frágeis:
1. Até agora, ausência de
uma prova palpável sequer contra ele.
2. A perseguição implacável
contra Lula.
3. A seletividade das
investigações, não investindo contra nenhum aliado do sistema.
Com a divulgação dos inquéritos, há duas intenções
óbvias:
1. O sistema (não a Lava
Jato) responde à acusação de seletividade, às vésperas do julgamento do alvo
preferencial, Lula.
2. Ao mesmo tempo, mantém o
governo Michel Temer refém.
A suposição de que a lista irá paralisar o mundo
político provavelmente não será confirmada. Nas próximas semanas se verá uma
aceleração dos trabalhos legislativos, visando aprovar o maior número de medidas
antissociais, para garantir o pescoço.
Peça 3 – as consequências da lista
Com a lista de Janot, tenta-se resgatar a
credibilidade perdida do sistema judicial, com a parcialidade e a seletividade
gritantes da Lava Jato.
Levaram três anos para iniciar uma investigação
contra Aécio, que era mencionado na primeira delação de Alberto Yousseff. Até
hoje não iniciaram as investigações contra José Serra, apesar de um relatório
sobre Paulo Preto estar na PGR desde março de 2015.
Com o estardalhaço de 83 inquéritos, passado o
carnaval inicial, a PGR permanecerá dona do tempo. Acertará contas com Renan
Calheiros e Fernando Collor, adiará indefinidamente os inquéritos contra seus
aliados e terá às mãos a metralhadora, para apontar contra quem ousar enfrentar
seus supremos poderes.
Os objetivos são óbvios:
1. Tentativa de inabilitar
de Lula para 2018, agora sob o manto da isenção.
2. Vida tranquila para José
Serra e Aécio Neves, que terão morte política natural, desde que deixaram a
condição de grandes campeões brancos contra a ameaça Lula.
3. Congresso sob a mira dos
inquéritos, deixando de lado qualquer veleidade de coibir abusos do MPF.
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